quinta-feira, junho 21, 2007

A primeira, a única e a última (O Embaixador Gourmet)

Hoje, quando procurava no Google informações sobre restaurantes nos locais onde vou de mini férias, encontrei um artigo da Visão, de 2005, que me chamou à atenção. Na verdade o que despertou o meu interesse foi parte do depoimento de Francisco Seixas da Costa, embaixador do Brasil e gourmet nas horas vagas (autor do blog, pontocome.blogspot.com). Gostei particularmente da sua última afirmação:

'Uma boa casa deve ter boa comida em primeiro lugar, mas Seixas da Costa não descura pormenores. Usa três critérios. Primeiro: o guardanapo. «Se for de pano define logo uma atitude. O de papel é desagradável.» Segundo: a pressa. «Não levantar o prato se ainda há gente a comer.» Terceiro: o oportunismo. «Quando os empregados enchem constantemente o copo de vinho só para consumir mais garrafas», exemplifica. «Tratar o cliente com respeito é tratar o dinheiro do cliente com respeito.» Se as coisas correm mal, fica «intratável». Diz ao dono: «Vim três vezes a este restaurante - a primeira, a única e a última.»'

(Foto: alandroal.blogspot.com)

terça-feira, junho 19, 2007

Noticia Requentada

Há coisas que às vezes não entendo. Folheava eu o Expresso Economia desta semana quando reparei na notícia: “Tavares ‘rico’ muda de mãos”. Não queria acreditar que um dos mais antigos restaurantes portugueses de luxo tinha mudado novamente de clube. Afinal não é verdade, a notícia apesar de ter data de 16 de Junho, refere-se a factos que têm pelo menos… 6 meses. E a que propósito foi agora requentado este prato? Ah, ao que parece, terá sido para falar do plano de modernização que vai ser levado a cabo, essencialmente no primeiro andar, de forma a atrair uma clientela mais jovem. Pois… só não entendo é porque é que um jornal semanal com o prestígio do Expresso, coloca como título da notícia (e refere no inicio da mesma) um facto bem antigo, como sendo recente . Ele há coisas que não entendo...

quarta-feira, junho 06, 2007

Um porto seguro a precisar de alguma agitação

Restaurante Il Gattopardo

Vivemos numa sociedade que valoriza as classificações e os temas devidamente arrumados por gavetas. Talvez por isso não haja semana em que não me perguntem qual é o melhor restaurante indiano, italiano, japonês, tradicional ou de peixe grelhado. Mas o que fica quase sempre por uma resposta evasiva é a pergunta cada vez mais comum, “é pá, e assim em termos gerais qual é o melhor que está aí agora?”. Na maioria dos casos chego à conclusão de que quem a faz não quer mesmo uma resposta, mas sim uma opinião sobre um ou outro sítio do qual até já tem uma opinião formada (nestas alturas lembro-me de um professor que dizia que, onde há cinco economistas, há pelo menos seis opiniões diferentes). Na verdade, como também não sou diferente, por aqui vou falando de estrelas Michelin, garfos de pechisbeque e outros galardões que tais. Dada a exiguidade das primeiras, no nosso país recorre-se ao fácil e fiel diapasão do termo, “considerado, por muitos, um dos melhores…”, de forma a não comprometer muito. Utilizei-o na ultima critica a propósito do Galeria- Gemelli e, desta vez, também serve para me referir ao restaurante do 3º andar do Hotel D. Pedro das Amoreiras.
Esta é uma opção interessante para quando se quer jantar num local recatado, numa 6ªF ou Sábado à noite, e nos esquecemos de reservar com antecedência. E o que podemos esperar deste local? Em primeiro lugar uma decoração mais clássica e sóbria do que o espalhafatoso lobby do Hotel (embora fosse dispensável a alcatifa em tons de leopardo – era preferível a referência ao filme de Visconti do que, especificamente, ao bicho que dá nome ao restaurante). Passando à verdadeira razão da vinda a este local, adianto já de que se trata de um porto seguro para os adeptos da cozinha italiana, que encontrarão também algumas propostas mais internacionais (hotel oblige) e ainda outras onde são valorizados determinados produtos da nossa cozinha, nomeadamente em matéria de peixes.
O jantar começou com um “entretém de boca”, uns frescos e saborosos pastéis de bacalhau amanteigados. De entrada vieram uns legumes grelhados com queijo mozarela de bufala fumada, gratinado (11.5€). Simples e muito bom – é um daqueles pratos que funcionam quase sempre bem, mas que ganha muito quando a matéria-prima é de boa qualidade, como era o caso. Como prato principal a opção recaiu nos raviolis de bacalhau em manteiga, com ovas de salmão (13€). Se me tivessem referido que a oferta do chefe versava este mesmo peixe, teria optado por algo diferente. No entanto, a qualidade e o sabor, tanto da massa como do recheio, estiveram patentes, embora dispensasse as ovas de salmão, cuja ligação com o sabor do bacalhau não apreciei. Houve ainda a oportunidade de provar os crepes de requeijão e espinafres com molho branco gratinado (15€), cuja a combinação (mais ou menos clássica) funcionou de forma aprazível. Para rematar, de sobremesa, um strudel de maçã e mel com gelado de caramelo (8.5€) - excessivamente doce para o meu palato (neste tipo de combinações gosto que o um dos elementos seja mais neutro em termos de doçura, o que não aconteceu, com a agravante de o gelado, já por si muito doce, ter ainda pedaços de caramelo a acentuar-lhe essa característica).
Em termos de vinho a escolha recaiu no Covela, branco (16€), de uma lista onde estes constam a preços sensatos, ao contrário do que acontece com os tintos – provavelmente será para compensar os péssimos copos que nos dispensam e que nem para licorosos deveriam servir (felizmente que esse descuido não se verifica ao nível dos tintos).
Por último, resta-me referir que o serviço é afável e profissional qb, mas não ficava mal uma maior agitação de forma a evitar um certo entorpecimento.
(Preço médio de refeição completa, com vinho, ao jantar: 50€/pessoa).

Hotel D. Pedro, Avenida Engenheiro Duarte Pacheco 24, 3º - Lisboa ; Telef: 213896600

publicado originalmente no jornal OJE (www.oje.pt) em 6 de Junho de 2007

terça-feira, junho 05, 2007

Sideways


Ontem estava à toa na vida (era dia impar) e, portanto, muito longe de um Suntory time. Vai daí, surgiu-me uma necessidade urgente de acompanhar o jantar (um simples bife do lombo grelhado com palitos de aipo bola salteados) com um copo de vinho, ali mesmo no sofá dado que o momento não pedia outro local mais digno. Para acompanhar procurei na garrafeira o vinho mais barato que por lá estivesse depositado. Parecia-me uma boa ideia voltar à segunda de duas garrafas de Má Partilha 2001 que tinha comprado na Bacalhôa, há umas semanas atrás.

Tira-se a garrafa, abre-se a garrafa, serve-se no copo e sem grandes cerimónias dá-se um belo trago. "Hum...a outra garrafa devia ter mesmo algum problema, pois esta está muito interessante", "bem, se soubesse, tinha trazido mais umas”. “Que belo vinho, que aromas... não parece nada um Merlot 100%".

Em dia de Donas de Casa Desesperadas este dono da casa já estava mais calmo e lá ia mastigando o bife e o aipo bola, à vez. Ao terceiro copo estranha-se ver no rótulo a a inscrição "Priorat". A medo, sobe-se ligeiramente o olhar e, surpreendentemente (ou não), lê-se duas palavras … "Clos Mogador"!

Não pude evitar uma gargalhada perante a única garrafa de uma remessa comprada, há poucas semanas, numa joalharia online. Brindei com um ligeiro tilintar do copo na garrafa e, com esta ainda meio cheia, conclui: que boa partilha!

Anuncio grátis (mas não gratuito)

"For Relaxing times, make it Suntory time"
in Lost in Translation (Sofia Copolla)