segunda-feira, abril 28, 2008

E 10 minutos de mau sexo?


Nunca como nos últimos tempos se tem usado tanto a palavra Gourmet. A sua utilização em termos de marketing e a sua apropriação por parte de determinadas marcas, também não. Infelizmente, por vezes, apenas se tem uma noção vaga do que significa o termo. Por exemplo, neste caso do arroz Pato Real, querem-nos fazer passar a mensagem de que é possível fazer um risotto em 10 minutos. Até pode ser uma boa notícia para quem não tem paciência para cozinhar. Acontece que se ignora aqui o facto do verdadeiro Gourmet ter tanto prazer em executar como em apreciar. E o prazer é tanto maior quanto mais complexa for a tarefa e o tempo da sua realização: Um gravadlax de 3 dias, uma cozedura a baixas temperaturas de 4 horas, uma redução de 45 minutos, uma codorniz desossada e recheada a preceito, são normalmente troféus exibidos com orgulho e glória perante qualquer convidado (ou até mesmo apenas como satisfação própria).Isso quer dizer que um risotto industrial que se pode fazer em apenas dez minutos é uma coisa má? Não, de todo. Dez minutos de sexo também devem ser muito bons. Os coelhos nem precisam de tanto.

quarta-feira, abril 23, 2008

Boca doce com travo amargo

Restaurante Bocca


Na restauração, tal como nos vinhos, fico sempre surpreendido quando surgem no mercado novos intervenientes que, de forma audaz, entram logo nivelando o preço por cima. É preciso estar muito certo e confiante no trabalho apresentado para que essa audácia não se transforme num bluff aos olhos do consumidor.
Foi esta a dúvida que tive ao ver a carta do restaurante sobre o qual aqui escrevo hoje.
Tudo começou com um email de um amigo a perguntar-me se já conhecia este local. Cliquei no link do site que vinha em anexo e naveguei um pouco por ali. Achei carote, mas fiquei suficientemente bem impressionado com cartão de visita, de modo que o coloquei na shortlist de locais a visitar. Na semana passada cumpri o desígnio e vim a este local de ambiente urbano, sofisticado e descontraído, composto por três salas, sendo uma delas para fumadores. Ao contrário do que o nome possa sugerir, o Bocca não é restaurante italiano, mas sim um restaurante de cozinha de autor. Na carta assinada pelo Chef Alexandre Silva nota-se a intenção de utilizar determinados produtos top, nomeadamente portugueses. O preço, em média, elevado, criou-me alguma expectativa, ainda para mais por ser a primeira vez que estava a ouvir falar deste Chef (falha minha, provavelmente).
O desafio começou com um simpático entretém de boca, um shot de queijo brie com creme de espinafres, acompanhado de um cannoli com uma erva aromática no meio. Sabores harmoniosos que prepararam a boca para o prato de entrada: no meu caso, um creme de ervilhas com flan de parmesão e telha de pata negra e, para quem me acompanhava, Vichyssoise de salsa com bacalhau fresco escalfado (8€, cada). Bom, o creme de ervilhas: aveludado, bem apaladado, a conjugar-se bem com a telha crocante de pata negra e com um agradável flan à base de parmesão a dar uma grande mais valia ao conjunto. A Vichyssoise, embora menos interessante pareceu-me correcta, ligando bem com um suculento, bacalhau fresco escalfado a baixa temperatura.
Nos pratos principais o risotto negro com sahimi de choco (15€) ainda nos fez vacilar mas acabámos por nos render aos prazeres da carne, deixando também de lado as duas massas da lista, bem como qualquer uma das quatro propostas de peixe. Assim, optámos pela perna de cordeiro de leite com alecrim, estufado de castanhas e cogumelos cantarelos (30€), e peito de pintada (que por acaso até era perna) com risotto de boletos (20€). Não questiono a agradabilidade de ambos os pratos, nem a utilização, neles, de produtos nobres de qualidade; ou ainda a forma correcta como estavam confeccionados. No entanto, nenhuma das propostas estava de louvar aos céus de forma a justificar o seu preço (sobretudo a perna de cordeiro). Ainda assim, até aqui, a refeição esteve uns bons pontos acima da média. Mas viria a baixar, com as sobremesas. A sopa de frutos silvestres com gelado de requeijão e crumble de avelã (7€) ainda se safou, mesmo que o crumble, crocante por natureza, perdesse essa textura ao vir afogado na dita sopa. Já a outra sobremesa, de nome tão extenso como o do representante de uma casa real - geometria de ananás marinado em calda de açafrão, com geleia de coentros e hortelã, espuma de coco, sorbet de figo (9€) – parecia uma salganhada de sabores sem grande coerência. A calda de açafrão até conferia um sabor interessante ao ananás, que por sua vez até costuma ligar bem com coco, não fosse a dita calda... Já o sorbet de figo pareceu-me completamente deslocado e a geleia, nome dado a uma gelatina, só veio trazer uma maior confusão de sabores.
No campo dos vinhos, a escolha pareceu-me muito completa e com a agradável surpresa de quase todos poderem ser pedidos a copo, o que torna mais aceitável os preços (elevados, embora não escandalosamente) das garrafas. Bebemos, com as entradas, o branco D. Berta rabigato 2006 (6€, a copo) e com os pratos principais, o tinto Covela Seleccionada 04 (26€), servidos em bons copos e à temperatura correcta.
O serviço foi eficiente e correcto.
No cômputo geral a experiência seria positiva se não fosse o preço final, desajustado à oferta.
(Preço médio por refeição completa, 45€/50€,pessoa, com vinho).

Contactos: Rua Rodrigo da Fonseca 87D – Lisboa. Telefone: 213808383 (www.bocca.pt)

Publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 23 de Abril de 2008

quarta-feira, abril 09, 2008

Sobe, sobe, “Belon” sobe

Brasserie Flo

A cadeia de hotéis Tivoli iniciou uma pequena revolução nos seus espaços restaurativos. O restaurante do terraço do Tivoli Lisboa está neste momento em obras e irá abrir em breve sob a responsabilidade do chefe Luís Baena .No seguimento desta mesma estratégia, chega agora a Portugal, a Brasserie Flo - a funcionar no piso térreo onde anteriormente estava o restaurante Beatriz Costa - dos mesmos proprietários da La Coupole, em Paris, e cujo a cadeia tem vindo a implantar-se em várias cidades importantes do mundo .
Mesmo que a tradução de Brasserie nos remeta para a palavra cervejaria, ao entrarmos neste espaço, essa semelhança é tão próxima como a distância entre Lisboa e Paris.
A carta é bastante completa e nela consta desde um dos pratos mais típicos das brasserie de origem alsaciana de Paris, o Choucrute, como várias propostas de mariscos, peixes e carnes (magret de pato, entrecôte, chateaubriand). Mas a mais-valia que trazem para Lisboa são mesmo as ostras, não que não existam por aí, amiúde, mas sobretudo, pela sua diversificação de variedades. Assim sendo não podíamos deixar de começar por este molusco, vendido em doses de seis unidades.
Não sei se por cortesia, ou por incentivo (provavelmente, pelas duas razões), chegou-nos, logo de início, dois pares de ostras do Algarve. Fresquíssimas e de forte sabor marítimo. Fazem parte da carta (12.50€) tal como as de Setúbal (13.50€). Mas não desfazendo, até porque estas são relativamente fáceis de encontrar por cá, estávamos ali para apreciar as variantes gaulesas e, dos cinco tipos diferentes disponíveis (tendo em conta a origem local e o calibre, optámos pelas duas espécies mais cotadas: as Gillardeau (16.50€) e as Belons (26.50€), ficando para outras núpcias as mais comuns, Fine de Claires (entre 14.50€ e 18€). Ora, partindo das ostras do Algarve para as Gillardeau, a diferença não foi muita, embora estas ultimas tenham um sabor mais suave e um ligeiro toque a avelã. Já quanto às Belons… estas são mesmo um caso sério: cheias, de sabor fino e prolongado quase até ao infinito – talvez sejam a prova que Deus existe.
Apetecia continuar por ali e experimentar todas as outras, até porque, infelizmente, 16 conchas daquelas não constituem nenhuma orgia. Mas regressámos à Terra e quisemos experimentar, pelo menos, uma das propostas de peixe e outra de carne. Assim, seguiu-se uns filetes de salmonete (19.50€) e, depois, um Onglet de vaca (22.50€), ambos muito bons e cozinhados num ponto de cocção correcto (médio, o peixe; mal passado, o naco de carne). A acompanhar o peixe vinham diversos legumes simples (feijão verde e cenoura) aconchegados em folha de brik. Acompanhava a carne um gratin dauphinois (gratinado de batata) leve e enxuto, o que pareceu ser uma boa opção tendo em conta o molho à base de natas, demasiado intenso (tal como o do salmonete) para o (meu) paladar lusitano.
Pena que as sobremesas não tenham estado ao nível do que descrevi atrás. Os profiteroles com baunilha e chocolate quente Valrohna (10.50€) estiveram longe de merecer o preço: “massudos”, gelado banal e, até o chocolate, não parecia ter a qualidade que o Valrohna normalmente tem). As “illes flottantes” com creme inglês (7.50€), nome chique dado a algo semelhante às nossas farófias, estavam demasiado enjoativas, tal era a doçura dos vários componentes que a compunham (praliné, creme inglês e claras em castelo adocicadas).
A carta de vinhos está longe de ser extensa, nomeadamente ao nível de champanhes (o acompanhamento ideal para as ostras), cujo o preço proibitivo nos remeteu para outras latitudes. E aqui encontrámos algumas referências gaulesas, pouco vistas por cá. Assim, a acompanhar a primeira parte bebemos um interessante Pouilly Fumé, Domaine Bonnard 2005 (32€) e, com a carne, o Lagoalva tinto 2006 (5.50€/copo), prejudicado pela temperatura demasiado elevada a que foi servido. O serviço foi eficiente e simpático, o que é de salutar, numa casa aberta há pouco tempo.
Quero crer que a Beatriz Costa, que viveu durante anos neste hotel, não iria levar a mal terem substituído o restaurante, com o seu nome, por esta Brasserie Flo. Entreguem-lhe uma dúzia de “belons” onde quer que ela esteja agora, sff.

(Preços com vinho, a partir de 35€/40€,pessoa. A refeição aqui descrita ficou em 75€/pessoa)

Contactos:
Avenida da Liberdade,185 Lisboa (Hotel Tivoli). Telefone: 21 3198977
www.brasserieflolisboa.com

Publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 9 de Abril de 2008

segunda-feira, abril 07, 2008

Obsession

Talvez por ter pouca paciência para o Inverno e por isso querer apressar a chegada do Verão, nestes dias amenos (ok, o caso de hoje não é exemplo), sinto um desejo incontrolável por ostras. Há quinze dias atrás referi aqui a excelente ideia que teve o André Magalhães ao criar uma happy hour de ostras no seu restaurante do Clube de Jornalistas. Na semana passada, seguindo o rasto e o devaneio por este molusco, fui à procura de mais e encontrei as famosas “belons” numa nova Brasserie, na Avenida da Liberdade. Terei chegado à conclusão que afinal Deus existe?

Quarta-feira, na crítica do Oje

quinta-feira, abril 03, 2008

Sem espinhas



É já depois de amanhã que tem inicio o primeiro Lisbon Fish&Flavours - Peixe em Lisboa 2008. A organização é da Associação de Turismo de Lisboa, em colaboração com a Essência do Vinho e a coordenação é do Duarte Calvão. A visita é obrigatória.

Food for Thought

Chegou-me por email* e faz parte do livro "Hungry Planet - What the World Eats"



Germany: The Melander family of Bargteheide
Food expenditure for one week: 375.39 Euros or $500.07



United States: The Revis family of North Carolina
Food expenditure for one week $341.98



Italy: The Manzo family of Sicily
Food expenditure for one week: 214.36 Euros or $260.11



Mexico: The Casales family of Cuernavaca
Food expenditure for one week: 1,862.78 Mexican Pesos or $189.09



Ecuador: The Ayme family of Tingo
Food expenditure for one week: $31.55


Bhutan: The Namgay family of Shingkhey Village
Food expenditure for one week: 224.93 ngultrum or $5.03
para mais, ver aqui.

* thks, Mr. Alvoeiro