quarta-feira, maio 21, 2008

Hard Fried bbq

Hard Rock Café

Começo por confessar que até à semana passada nunca tinha entrado num Hard Rock Café, nem nunca tinha tido sequer a curiosidade. Desafiado por um amigo que me garantia a existência do melhor hambúrguer da cidade, acedi lá ir, prometendo deixar à porta qualquer tipo de preconceito.
Primeira constatação: a integração de toda a memorabilia rockeira no espaço que em tempos albergou o Cinema Condes está bem conseguida, chegando mesmo a impressionar quando se avista o descapotável pendurado entre a parede e o tecto, numa virtual estrada de néon. A sala reparte-se por dois andares: em baixo, o bar e a zona de mesas que se distribuem inclusive pelo próprio palco, nos dias em que não há música ao vivo. No andar de cima, mais mesas em redor do varandim e também no espaço contíguo a ele. À entrada, perante o “good evening” de quem nos recebe, percebo que acabo de entrar numa embaixada da globalização norte americana. Ao contrário do que esperava, apesar do sotaque estrangeiro de muitos clientes, uma boa parte é portuguesa. À nossa chegada, junto à mesa que nos tinha sido reservada, festejava-se efusivamente o aniversário de alguém. Temi o pior, lembrando-me de outro jantar, há uns meses atrás, num restaurante de tapas, em que fui actor secundário de uma despedida de solteira. Só que ao contrário do que aconteceu dessa vez, os ânimos rapidamente acalmaram. Também ao contrário dessa experiência, em que os empregados eram sobretudo animadores que pouco percebiam do que estavam a servir, aqui, respira-se profissionalismo. Como numa fábrica bem programada, o serviço é eficiente e a simpatia e descontracção fazem parte das regras da casa. E o que se pode comer por aqui?
Começámos por um “Jumbo Combo”(16.25€), uma selecção de várias entradas constituída por aros de cebola panados, tiras de peito de frango panados, asas de frango picantes, batata recheada com queijo, salada César, e uns crepes recheados de feijão vermelho, espinafres, milho e pimentos - tudo acompanhado por quatro molhos diferentes. Apesar de fazer parte da secção de entradas, o que nos chegou dava para alimentar uma família. Em geral, com excepção da salada (inundada em maionese), tudo nos soube bem. Na verdade, tudo nos soube aos molhos, em especial ao de barbecue (bbq), em que mergulhámos os vários alimentos. Porém, acalmada a fome, ao quinto ou sexto naco, acusámos também o excesso de fritos, embora o balde de cervejas Corona (4+1 grátis, 15€) tivesse ajudado a disfarçar, graças ao gomo de limão que acompanha estas cervejas mexicanas. De seguida, enquanto a empregada procurava lugar na mesa para depositar os pratos principais, nós procurávamos espaço no estômago para eles. As bbq ribs (entrecosto, 13.95€) estavam bem tenras mas só se descortinava o molho bbq que as revestia. Acompanhava umas batatas fritas francamente mazinhas (sim, porque mesmo dentro da secção da batata frita congelada, existem algumas bastante aceitáveis para o género), as mesmas que guarneciam o burger com queijo azul (13.25€). Este hamburger, feito de carne de vaca Angus, estava de facto saboroso, embora tivesse sido prejudicado pela quantidade excessiva de queijo azul, cujo sabor é naturalmente intenso. Já não havia lugar para sobremesa. No entanto, trabalho oblige, resolvemos solicitar um doce “regional” norte-americano que, para variar, veio em dose familiar: um brownie de chocolate, razoável, com uma bola enorme de gelado de baunilha, avelãs e uma montanha de chantilly com (não poderia faltar) uma cereja no topo (7.45€). Devíamos ter pedido o Stairway to Heaven dos Led Zeppelin a acompanhar, mas não constava que aceitassem discos pedidos. Como não tinham Alka Seltzer, terminámos com um descafeinado.
Apesar de tudo a experiência superou as minhas expectativas e, por isso, não deixo de recomendar este sítio, nem que seja uma vez na vida. Sugestão: peça o prato mais barato da lista porque, no fundo, o que quer que peça vai saber a molho bbq. E mesmo que não tenha essa praga, o aroma está impregnado no ar, pelo que é necessária uma certa dose de abstracção para poder apreciar, por exemplo, um bom hambúrguer. (Preço médio, 25/30€, com cerveja).


Publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 21 de Maio de 2008


Contactos: Av. da Liberdade, 2, Lisboa ; Telefone: 213 245 280 ; http://www.hardrock.com

sexta-feira, maio 16, 2008

Crumble de maçã

Gosto bastante do crumble de maçã que costumo fazer. Não tem grande ciência e sai quase sempre bem. No entanto, hoje apeteceu-me variar. Vai daí, toca a procurar receitas. Parei aqui e fiquei curioso. Na verdade fiquei foi guloso. Tão guloso que decidi que a partir de agora só vou fazer crumble com maçãs verdes. Que se lixem as maçãs Royal Gala.

quinta-feira, maio 15, 2008

Tiborna simples

Este post é dedicado ao meu irmão que me acusa de ser muito elitista em termos de preferências gastronómicas (e noutras coisas também, mas isso já é outra história). Como represália deixo-lhe aqui a imagem de um prato bastante sofisticado. Um dos melhores que comi nos ultimos tempos (bom, estou a exagerar um bocadinho, mas ninguém leva a mal).

Trata-se de uma tiborna simples e pode ser apreciada, por exemplo, no local onde esta foto foi tirada: o restaurante Pão Saloio, em Toledo, Lourinhã. Também pode ser feita em casa, caso tenham à vossa disposição uma máquina de cozinhar a vácuo , alginatos para esferificações, um sifão, uma Clarimax e uma Pacojet. Se tiverem isto tudo, óptimo, pois estou certo que poderão fazer inúmeras iguarias que aprecio muito. No entanto, para esta receita basta meter essa maquinaria toda de parte e seguir a esta complicadíssima receita: parta nacos de pão de milho acabado de sair do forno (ou vá lá, acabados de aquecer no forno), junte umas lascas de alho e regue com bom azeite novo.

Existem várias derivações da receita, consoante a região ou a fonte. Para mim, basta assim.

terça-feira, maio 13, 2008

A perfect match


Por si só não são nada de extraordinário. No entanto, ontem, completamente ao acaso, provei-os em conjunto e deixem-me que vos diga, do alto da minha possidonite anglo saxónica: a perfect match!

(Lindt Excellence Orange Intense & Cossart Gordan, Malmsey Madeira Colheita, 1994)

quarta-feira, maio 07, 2008

Ignorância ou negligência?

Sempre que atacada publicamente pelos seus supostos excessos de fiscalização, os responsáveis da ASAE escudavam-se que apenas estariam a fazer cumprir a legislação da Comunidade Europeia. O que nunca ninguém tinha dito é que bastava uma simples comunicação por parte dos "sucessivos governos" para que pudesse haver excepções que permitissem a especificidade na confecção de determinados produtos tradicionais portugueses.

A denuncia é da especialista Ana Soeiro e notícia, do Público, pode ser lida aqui

A elegância do pós-deslumbramento

Restaurante Tavares

Para todos os que têm vindo a acompanhar a actividade gastronómica nacional, José Avillez é neste momento um dos Chefes de que mais se fala. Quem assistiu há cerca de um mês, perante um auditório cheio à sua sessão de show cooking no festival Peixe em Lisboa percebe em grande parte porquê: a forma cativante e entusiástica de comunicar, a facilidade com que transmite o seu saber e a apresentação sofisticada, criativa mas ao mesmo tempo simples, da sua cozinha - onde o produto é soberano, e todos os outros elementos (não mais do que dois ou três, salvo uma ou outra excepção) servem para o destacar e não para o esconder - fazem com que já tenha conseguido reunir à sua volta um conjunto vasto de admiradores, mesmo antes de chegar aos 30 anos. A curiosidade à sua volta aumentou ainda mais quando se soube que tinha aceite o convite para chefiar a cozinha do mítico Tavares, depois de seis meses na Catalunha, onde esteve a estagiar no famoso El Bulli de Ferran Adriá. Muitos disseram que o seu perfil era demasiado jovem para um lugar histórico e majestoso como este. Outros afirmaram, que estaria a dar um passo maior do que as pernas num local onde pelo menos dois chefes experientes e talentosos não foram bem sucedidos. Por tudo isto, e por nunca ter experimentado a cozinha de Avillez, era incontornável voltar ao Tavares, um ano e meio depois de aqui ter descrito a excelente refeição lá tida na era de Peudenier.
No Tavares pode-se escolher à carta, mas fazê-lo seria como alugar um Aston Martin com limitação de km ao perímetro do bairro. Talvez não seja necessário optar pelo Menu Surpresa (10 pratos, 95€), mas aconselho vivamente a opção que escolhemos: o Menu do Desassossego (7 pratos, 75 €) com o complemento de vinhos a copo (25€).
A sessão começou por vieiras em canneloni com ovas de truta e em tártaro com sumo de limão. Um produto, duas texturas diferentes, duas cozeduras diferentes, dois auxiliares diferentes e um resultado consensual: perfeito! De seguida: lagostins ligeiramente salteados com gelatina do seu caldo e “protengue” (sorbet?) de flor de laranjeira. A conjugação da subtileza e frescura do crustáceo em estado quase puro e a concentração do seu sabor em gelatina, com o sorbet a trazer-nos um apontamento de ligação surpreendente (estes dois pratos foram acompanhados pelo Albariño, Terras Gaudas 2006). A terceira proposta parecia querer fugir à regra minimal de elementos no prato. Considerei uma brincadeira de vários sabores e texturas em quantidade mínima (morangos, flores, toucinho gordo, crumble de broa de milho, azeitona desidratada em pó e ervilha torta) que serviram, sobretudo, para evidenciar a terrina foie gras como a rainha da corte (acompanhados em termos líquidos por um agradável Late Harvest do Esporão, 2006). Depois de brincarmos com esta espécie de smarties para crescidos, voltámos à filosofia minimal, com um salmonete assado, no ponto, com molho dos fígados e uma pequena batata recheada com tapenade de azeitona galega, numa ligação de sabores, desta vez, dados pelo contraste (e facilitados pela estrutura e boa acidez de um branco do Douro, o Muxagat 2006). No quinto prato fomos virtualmente transportados para uma sopa à alentejana by Avillez: ovo biológico cozido a 64º, uvas em tempura (repescando a tradição da utilização de uvas na sopa à alentejana em época das vindimas) e espuma de bacalhau e poejos. Seguiu-se o “leitão da cabeça aos pés com molho de coentrada, morango tépido com gelatina de vinho da Bairrada”: várias partes do leitão em contraste de sabores, texturas e cozeduras diferentes. O avinagrado dos pezinhos de coentrada vs. a gordura da entremeada; a pele crocante desta vs. a suculência da carne da perna; e ainda, uma parte da cabeça de consistência mais firme. O apontamento do morango com a geleia de vinho em vez do acompanhamento mais comum da laranja, foi uma ideia muito bem conseguida num prato com tanto de interessante como de arriscado (acompanhou um tinto do Dão, o Quinta das Estrémuas Reserva, 2003). Ao sétimo prato, um falso pastel de nata em forma de mil folhas desceu à terra, acompanhado de gelado de canela, para que pudéssemos finalizar e ascender ao céu em beleza. O efeito grandioso de um moscatel roxo de 2003, do produtor Horácio Simões, ajudou a essa ascensão.
O serviço não tendo sido tão perfeito como a refeição, esteve bem nos vários aspectos. Por ultimo gostaria de destacar uma prática pouco usual, mas agradável para quem sabe que vai receber uma “dolorosa” considerável: o couvert, a água e o café não são cobrados à parte.
Após esta experiência não tenho dúvidas em afirmar que José Avillez é a pessoa certa nesta nova fase do Tavares e que a sua cozinha elegante e criativa (mas sem truques de artificio) vai consagrá-lo, no mínimo, como uma referência no panorama nacional.

Contactos: Rua da Misericórdia 35/37 - Lisboa, Telefone: 213421112 http://www.tavaresrico.pt/

Publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 7 de Maio de 2008

Tavares by Avillez

Esta semana voltei ao Tavares. É o primeiro restaurante que repito no âmbito das críticas do Oje. Mais do que ter esgotado o leque de restaurantes disponíveis tinha bastante curiosidade em experimentar a cozinha de um dos Chefs mais badalados do momento: José Avillez. Terá valido a pena?

Esta Quarta Feira no Oje.
(na foto:Vieiras em canneloni com ovas de truta e em tártaro com sumo de limão. “Pele de iogurte de pepino”, borragem e raspas de lima)