quarta-feira, setembro 26, 2007

Pintxos, sinetas, sevilhanas, futebol e despedida de solteira

Txiriboga – taberna basca

Querer petiscar ou jantar sossegado num bar de tapas é um disparate tão grande como procurar um momento zen no Colombo em dia de jogo do Benfica. Esta situação tanto é válida em Espanha como por cá, nos vários locais existentes em Lisboa. O Txiriboga intitula-se como uma taberna basca, mas o seu raio de acção vai muito para além dessas fronteiras, apresentando um variado leque de propostas da gastronomia popular de outras latitudes do país vizinho. A animação parece ser o mote deste lugar. Há uma sineta que de tempos em tempos toca a rebate, empregados (ou melhor, animadores) que actuam em sessões de shots, e grupos de pessoas animadas que elegem este local para aniversários e despedidas de solteiro (tendo sido este o caso que me saiu em sorte na noite de Sábado que ali estive presente). Tudo isto ao som de sevilhanas e imagens de futebol transmitidas em quatro telas gigantes. As opções para comer são mais que muitas. Na barra (balcão) existem petiscos a pedido e pintxos (tapas), onde cada um se serve do que quiser. Depois, na carta, um infindável mundo de tortilhas, revueltos e outros produtos e pratos populares.
Recentemente, em visita ao País Basco espanhol, fiquei espantado com o culto à volta do pintxo, de tal forma que mesmo nos locais mais famosos e tradicionais (como por exemplo, no Bar Bergara, em San Sebastian), a procura em proporcionar uma oferta variada de propostas populares anda a par com uma busca permanentemente em encontrar novas soluções, algumas até com um certo nível de sofisticação. Por aqui, o campeonato é outro, até porque a clientela é diferente e, em geral, pouco conhecedora. Numa primeira olhada pela barra constatei a predominância de pintxos à base de queijo, seja ele curado, gratinado ou em pasta (mais artesanal ou mais industrial). Pedi uns boquerones em azeite e alho (3.50€) e uns pimentos de piquillo (2.10€), que souberam muito bem (para dizer a verdade, sabem quase sempre bem). Dos pintxos, depois de perceber que quem me atendia não estava muito certo no que consistiam alguns deles, lá arrisquei e escolhi por minha conta: pimentos de Padrón (frios, ressequidos – ou seja, mauzitos); um cogumelo recheado com queijo, presunto e um camarão no topo (saboroso), uma mini-espetada de carne coberta com uma “molhanga” e ovo cozido ralado (marchou bem); um pintxo de presunto com uma misturada que julgava ser de bacalhau mas que me pareceu ser de delicias do mar (para mim que não gosto deste sucedâneo de marisco, o conjunto até não destoou) e, por ultimo, uma pasta de queijo com nozes regado com um molho doce que, no conjunto, mais se adequava a uma sobremesa (estes pintxos vêm em pequenas fatias de pão e custam, os normais, 1.15€, e os especiais, 2€). Ainda antes do “tira, tira” da despedida de solteira, houve espaço para uma meia dose de presunto pata negra 5J (11€) – divinal, como sempre, embora merecesse maior atenção no corte – e para uma boa tortilha de batata e cebola (9.35€), com o tubérculo em finas camadas num interior suculento. Para rematar, de sobremesa, um aceitável crema catalana (4€), queimado no momento, como mandam as regras. Tudo isto foi facilitado por umas cañas (que por acaso até eram Sagres), apesar da hipótese de acompanhar a petiscada com os tradicionais txakoli (vinho branco do país basco) e sidra ou, ainda, com uma das várias referências vínicas espanholas e argentinas (estes últimos, vá-se lá saber porquê). Bica, conta e… ala que se faz tarde que os ouvidos já não aguentavam tanta sevilhana. Ah! Pelo menos enquanto lá estive, não consta que a pré-noiva tenha alinhado no “tira, tira”. (Preço médio, com bebida, 15/20€).

Contactos: Rua Latino Coelho,50 - Lisboa ; Telefone: 213582550 (www.txiriboga.pt)

publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 26 de Setembro de 2007

quarta-feira, setembro 19, 2007

Gengibre e Limão



Corta-se um dedão de gengibre em rodelas, acrescenta-se uma casca de limão e ferve-se em água. Deita-se numa chávena, acrescenta-se 2 colheres de chá de mel e temos um bravo guerreiro para constipações e gripes irritantes.


P.S. qualquer gengibre serve, embora nada se compare a este do tipo "Jofeboso" (de sabor mais intenso e com um final mais picante).

quarta-feira, setembro 12, 2007

Hard Food Café

Restaurante Espaço Açores

É possível escrever uma crítica sobre um restaurante de cozinha regional baseando-nos em conceitos gerais, ou seja, sem o conhecimento específico desse tipo de cozinha? Talvez não seja a situação ideal, mas creio que há determinados critérios que não são assim tão diferentes, sobretudo na cozinha ocidental. Isto vem a propósito da refeição que fiz na semana passada no Espaço Açores. A minha experiência prévia com a gastronomia das ilhas resumia-se a uma semana passada em S. Miguel, há mais de 10 anos, e de duas visitas ao Bambino D’ouro, o anterior restaurante do actual proprietário deste espaço. Do primeiro caso, a memória reteve uns filetes da Abrótea e um bom arroz de lapas. Já no segundo caso, recordo-me do “peso” de uma Alcatra à terceirence e de um polvo guisado.
O restaurante situa-se na parte superior do novo mercado da Ajuda e trata-se de um espaço moderno em que foram utilizados elementos e materiais que evocam as ilhas. Percebe-se que houve a intenção de dar ao lugar uma certa sofisticação, mas numa perspectiva acolhedora. Numa mesa espaçosa e bem atoalhada esperavam-nos, ao sentar, bom pão, um agradável couvert de quadradinhos de queijo de S.Jorge, azeitonas e manteiga (1.5€/pax) e queijo fresco com malagueta (1.55€) - com este segundo elemento a esmagar completamente o primeiro. Entre as variadíssimas opções, muitas delas a necessitarem de descodificação (informação prestada pelo responsável da casa – mais contido do que me recordo, quando estive no Bambino D’ouro, mas com uma certa sobranceria que chega a tornar-se um pouco irritante), escolhemos de entrada, umas lapas na grelha (15.90€) e, nos principais, torresmos com feijão assado (8.90€), linguiça com inhame (8.90€) e filetes de peixe-porco (10€). As lapas, embora demasiado rijas (talvez por excesso de grelha), estavam boas de sabor, com um toque de manteiga a casar bem com o característico paladar marítimo. Gostei também dos torresmos (equivalente ao entrecosto continental), enxutos e bem temperados, mas nem por isso da companhia do feijão assado – pesado e enjoativo à terceira garfada. No prato seguinte, registei a boa combinação entre uma linguiça de qualidade, o inhame e um tipo de pão, que suavizavam o sabor forte do enchido, servido numa quantidade surreal (era preferível ter este prato como petisco de entrada). Em relação aos filetes de peixe-porco, o envolvimento em pão ralado, tipo costeleta panada, até pode ser tradicional, mas valoriza muito menos o peixe do que a mais neutra polme à base de farinha. Também não ajudou o facto do arroz ter vindo cozido de mais. Para acabar, de sobremesa, a opção recaiu no doce de vinagre (3.35€) – agradável mas de consistência talhada a atirar para o granulado. Provei ainda uma espécie de tarte de queijo da ilha (3.35€) que comecei por estranhar (devido ao sabor demasiado presente do queijo) mas que acabou por agradar.
Nos vinhos, se exceptuarmos a presença de algumas marcas açorianas, a carta é bastante previsível incidido sobretudo nas referências mais convencionais. Os preços são os normais de restauração e os copos, correctos para os tintos, mas desadequadamente pequenos para os brancos. Bebeu-se um branco dos Açores, Terras da Lava 06 (12.5€), que acompanhou bem as lapas, e um tinto do Dão, Quinta dos Roques 05 (13€), para as carnes.
Por ultimo, fomos atendidos de forma simpática e profissional qb, com uma ou outra falha característica de noite de azáfama – sobretudo em termos de timings.
É de salutar o esforço que é feito aqui na divulgação da gastronomia e dos produtos açorianos - existe naturalmente um público para esta cozinha mais pesada, como foi possível comprovar pela casa cheia no dia em que lá estivemos - mas independentemente de se gostar ou não de determinados ligações ou acompanhamentos, existem pormenores de confecção que são universais e não locais. E neste aspecto, existiram algumas falhas que devem ser corrigidas.

(preço médio por uma refeição completa, com entrada, prato e sobremesa: 30€/pax, com vinho).

Contactos: Largo da Boa Hora Loja 19 Mercado da Ajuda - Lisboa ; Telefone: 213640881 (www. espacoacores.com/)

publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 12 de Setembro de 2007

quinta-feira, setembro 06, 2007

Morrer um bocadinho assim




Ontem o meu amigo Rui Casaca fez 35 anos e achou que eu estaria à altura de fazer o jantar de aniversário dele. Obviamente que percebi que o pretexto (e que pretexto…) era abrir umas garrafas cuidadosamente estudadas para o efeito. Para começar nada melhor do que um champanhe Krug 1988, seguido de um Hermitage La Chapelle (P. Jaboulet)1999 e, para finalizar, um Porto Vintage da Niepoort de… 1970 (engarrafado em 1972, ano do seu nascimento). Qualquer apreciador sabe que pode morrer em paz depois de beber 3 vinhos destes.
Felizmente que o Porto ainda ficou e hoje vou poder morrer mais um bocadinho…