São várias as razões que nos levam a experimentar um novo restaurante. Ou porque alguém nos recomendou, ou porque lemos uma critica (ou uma notícia) na imprensa, ou porque ao passarmos por um lugar que nem suspeitávamos existir algo nos despertou a curiosidade. Foi o que me aconteceu, quando ao passar pela Rua da Moeda, me deparei com um pequeno restaurante cuja a decoração cosmopolita parecia ter saído duma qualquer edição da Wallpaper: mobiliário de design, papel de parede em tons florais, empregados com ar fashion. Estabelecido este primeiro contacto, algum tempo mais tarde e após algum googling sobre as propostas gastronómicas do local, achei que poderia ser interessante fazer uma visita a este espaço de cozinha criativa sobre o qual continuava sem ter qualquer outro tipo de referência.
E assim foi: num destes Sábados de calor, reservei uma mesa para duas pessoas e à hora marcada, 21h, fomos recebidos numa sala ainda pouco composta. Uma vez instalados, foi-nos apresentado o menu, constituído por um misto de propostas de inspiração ibérica e de cozinha asiática. Nas entradas, das oito sugestões - na sua grande maioria, frias –, optámos pela sopa Fria de Melão e Melancia com Juliana de Presunto e Hortelã (7€) e pelo Escabeche de Codorniz com a sua Verdurinha e Azeite denso de Pinhões (8€). Na sopa, à conjugação clássica de melão e presunto, acrescentou-se aqui a melancia e um perfumado de hortelã que poderia ter resultado num conjunto refrescante não fosse a temperatura a que foi servida ter traído essa intenção. Muito boa a Codorniz, tenra e bem apaladada num escabeche bem executado com o azeite denso de pinhões a dar um toque original sem se evidenciar em demasia. Arrumada a primeira parte passou-se aos “principais”. Por entre várias propostas de cozinha em wok, estilo Thai, as opções da carta variavam entre duas carnes – Tornedó de Novilho com molho de chá de Jasmim (17€) e Lombo de Javali com espuma de Morcela e Boletos Salteados (23€) – e três peixes – Robalo grelhado com Batata-doce em três texturas (18€), Cherne grelhado com Salada de Pepino-hortelã e Corações de Tomate (20€) e Bacalhau confitado com Banana-Pimento caramelizada (19€). A escolha recaiu no Bacalhau confitado e num sugestivo Coelho com Búzios e molho de Agrião (16€) que nesse dia fazia parte da ementa. O bacalhau representado por uma posta alta e generosa pareceu cozido em demasia não beneficiando do tratamento em confit (técnica que consiste numa cozedura lenta do alimento, imerso em gordura – em azeite, no caso do bacalhau - , a uma temperatura baixa sem nunca o deixar ferver), que como se sabe, faz com que a retenção dos sucos lhe dê um sabor mais apurado e uma textura mais sedosa, de forma a que os lombos se soltem com facilidade. A sua conjugação com a banana caramelizada envolta em pimento vermelho, é uma ligação arriscada mas interessante, quando doseada a proporção de cada elemento no garfo. Quanto ao Coelho com búzios e molho de agriões, funcionou muito bem a ligação terra/mar, se bem que no seu conjunto, o prato pareceu algo desequilibrado com duas pernas do animal demasiado grandes, em contraste com a penúria de agriões do dito molho.
De seguida, de sobremesa, pedimos o Tricolor de Chocolates com “Suzette” de laranja e Marmoreado de Cacau e um Granizado de Chocolate Branco com framboesas recheadas de Havana 7 e Azeite Virgem. Digamos que o enunciado prometia mais do que o resultado. Ou seja: agradou mas esteve longe de deslumbrar.
O jantar foi acompanhado por um Herdade do Perdigão, branco, reserva 2004, cuja a acidez e uma certa mineralidade deram luta às opções degustadas. Este vinho fazia parte de uma lista de 14 tintos, 2 rosés e 6 brancos (oito, se incluirmos os verdes) com a predominância para o Douro e Alentejo. Lista curta, demasiado curta, nos brancos - sobretudo se tivermos em conta que a grande maioria das entradas do menu, são frias (segundo me informaram na altura, esta situação será revista em breve).
No que diz respeito a preços, em termos gerais, estes pareceram-me um pouco exagerados dado que uma refeição completa - com entrada, prato, sobremesa e vinho - dificilmente ficará por menos de 30€/35€.
De ressalvar a qualidade e amabilidade do serviço, fundamental num local com características intimistas mas cuja a opção estética o poderia tornar intimidante.
Com alguma afinação nas propostas apresentadas penso que este Yasmin pode ser uma opção diferente e agradável para quem quer um espaço e uma cozinha mais cosmopolitas.
Yasmin: Rua da Moeda 1A - Lisboa ; Telefone: 213930074
publicado originalmente no jornal OJE (www.oje.pt) em 10 Agosto de 2006
1 comentário:
De novo uma boa crítica. Com substância. Completamente de acordo na questão das expectativas, coisa que raramente vimos referidas por outros críticos e que por vezes são determinantes na experiência que vivemos num restaurante.
Um abraço e fico à espera da próxima.
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