segunda-feira, outubro 30, 2006

Que belo estúpido!

Dizem-me que os Vintage de 2000 estão neste momento a passar pela fase estúpida. Pois eu diria que este Graham's (tal como o Fonseca que bebei na semana passada) está estupidamente bom: aromas de fruta compotada, rebuçado, groselha, cereja preta . Potente na boca mas de taninos aveludados, mal se sentindo o teor alcoólico. Quanto ao final...looooooooooooooooongo!

quarta-feira, outubro 25, 2006

Paz, Pão e Manteiga de Aviação


Muitas pessoas ficam admiradas quando lhes digo que faço pão. Na verdade eu não faço pão, limito-me a colocar todos os ingredientes numa máquina e ela faz tudo por mim. Este saiu particularmente bem (até parece a sério!). A seu lado, uma lata de manteiga de Aviação trazida de S. Paulo, há 1 ano atrás. Não fazia a ideia que era tão boa – sobretudo agora, que a validade venceu no mês passado – apenas a trouxe porque gostei da embalagem e achei o nome desconcertante (terá alguma coisa a ver com a manga de avião?).

Para quem quiser fazer um igual: 300 ml de água, 2 colheres de óleo de girassol primeira pressão, 1 colher de chá de sal marinho; 375gr de farinha – trigo T75 (55%), centeio (25%), aveia (10%), flocos de arroz (10%), 1 colher de chá de açúcar. 8,25gr de fermento em pó. Com a excepção do sal e da água (del cano) todos os ingredientes foram/são comprados na Biocoop (anúncio completamente grátis) onde se vende, também, farinha e fermento de espelta, com que se faz o meu pão favorito.

E já que falamos em pão, deixo aqui o endereço da Poilâne, famosa por fabricar o melhor pão do mundo – segundo alguns franceses e americanos influentes que por certo nunca provaram o pão da Paladares de S. Sebastião (Rua S. Sebastião da Pedreira, 25 A, Lisboa) ou um daqueles cozido em forno de lenha, algures no Alentejo.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Sessão da Noite: Lynch & Fonseca


Que bela sessão: um Lynch que não era David seguido da série Fonseca (Não a do Gato Fedorento, mas sim a da Fladgate Partnership).
Cortesia: Rui Casaca e do responsável pelo talho do El Corte Inglés (pela paciência em desossar as codernizes).

quinta-feira, outubro 19, 2006

Um Bouquet de Aromas e Sabores

Restaurante São Rosas

O São Rosas é um daqueles lugares cuja a ementa fixa raramente encontro algo de muito excitante mas de onde saio sempre satisfeito. De facto, qualquer coisa que se peça tem-se normalmente a garantia de que é bem confeccionada e que a matéria-prima é de grande qualidade. Além disso, é um lugar acolhedor, sem grandes modernices, mas diferente do ambiente rústico habitual dos restaurantes regionais. Acresce ainda que a presença regular nas várias listas dos melhores restaurantes portugueses acrescenta-lhes uma certa responsabilidade, que é correspondida na sobriedade e no cuidado com que somos recebidos, desde o serviço atencioso e profissional, à qualidade do tableware, passando pelo tratamento exemplar dado ao vinho. Mas dizia eu que as propostas da ementa não são muito excitantes, havendo mesmo algumas que não fazem grande sentido, como é o caso da salada de mozarela com tomate ou do salmão fumado. No entanto, nesta ultima vez as propostas oficiosas – que não constavam no menu fixo – eram de tal forma atraentes que as solicitámos quase todas. De entrada, vieram as túberas (14€) - espécie de trufa alentejana de textura próxima à do cogumelo vulgar, quando cozinhada - e uns cogumelos recheados com camarão (12€), ambos fritos em azeite e bom alho (daquele que infelizmente não encontramos nos nossos supermercados). Qualquer um dos pratos estava muito saboroso pecando apenas pelo excesso de azeite com que foram servidos. De seguida, foi a vez de uma especialidade da casa, a sela de borrego (18€). De gosto intenso, a peça foi servida com umas deliciosas ervilhas, batata primor assada e couve lombarda cozida, servindo esta de contraponto à gordura proveniente da assadura da carne.
Depois, foi a vez de uma tenra perdiz “partida à glória” (20€, meia perdiz), com um óptimo molho avinagrado, proveniente do estufado da ave. Tal como o primeiro prato, este também foi servido com batata e couve lombarda e um esparregado em vez das ervilhas (talvez o contrário fosse mais acertado: o adocicado das ervilhas é capaz de funcionar melhor com o avinagrado da perdiz e o toque de vinagre do esparregado ajudaria a cortar a gordura do Borrego). No final veio a desgraça: qual Alemão de Leste depois da queda do muro de Berlim, não resisti à mesa onde estavam expostas as sobremesas e, incentivado por quem nos atendeu, atirei-me ao pudim de água de Estremoz (hummm… não sei se vos diga, se vos conte!) e às farófias, maravilhosas, como só uma mãe as sabe fazer (ou pelo menos, como a minha sabe fazer). Para desenjoar, uma beliscadela nas trufas de chocolate do prato da frente.

Não posso terminar sem referir o bom serviço de vinhos e a forma exemplar como estes são tratados: servido à temperatura correcta, em copos apropriados (Riedel) e a preços sensatos. A carta é bastante completa, constando praticamente tudo o que de qualidade se produz no Alentejo, mas não se ficando por aí. Dela constam também as principais referências de outras regiões do país e bem como algumas boas opções de vinhos estrangeiros. Acompanhámos as entradas com um branco local, o Monte dos Cabaços (1,80€ o copo) e os pratos principais com um Esporão Touriga Nacional 03 (24.50€ a garrafa). Este último, com um pouco mais de taninos e menos fruta compotada que a famosa versão de 2001, deu uma boa réplica às propostas degustadas. No final a conta foi de 102€ (2 pax), o que se percebe tendo em conta as iguarias em causa. O que não se percebe é que estes pratos do dia não venham no menu com os referidos preços. É que apesar de termos noção que comer perdiz e túberas não é o mesmo que comer frango e cogumelos de lata, gostaríamos de ter uma ideia, à partida, de quanto é que a “extravagância” nos vai custar. Não será por certo este pequeno espinho que vai retirar o aroma a este bouquet de aromas e sabores, mas ficaria bem eliminá-lo. Até porque é muito fácil.

Largo D. Diniz,11 ; 7100-509 Estremoz ; Telefone: 268 333 345


publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 19 de Outubro de 2006

quarta-feira, outubro 04, 2006

A Cozinha Tailandesa Merece Melhor

Restaurante Naga Thai

Nos últimos anos, de uma forma mais ou menos discreta, têm surgido diversos restaurantes de cozinha tailandesa. Uns têm tido sucesso e conseguem ter a casa bem composta, outros vão tentando sobreviver adaptando-se, por vezes, aos paladares mais ocidentais. Ao contrário de cozinhas étnicas, como a Indiana ou a chinesa – cujo baixo custo do “descongela, cozinha, põe no prato e serve à mesa” lhes garantiu uma rápida expansão –, na cozinha tailandesa o processo é mais complicado: como fast food não têm o poder dos seus “vizinhos” e para praticar uma cozinha de qualidade estão dependentes do acesso a determinados produtos frescos, normalmente onerosos, por serem bens perecíveis, comprados em pequenas quantidades e, grande parte, de proveniência longínqua. É por isso normal que na hora de se pagar a conta possa haver algum desconforto, sobretudo se a experiência não tiver correspondido ao que nos pedem. Infelizmente foi essa a situação por que passei, recentemente, num jantar no Nagathai, ali para os lados do Jardim de S. Pedro de Alcântara ao Bairro Alto. O espaço é generoso e decorado entre o tradicional e o contemporâneo, o que o torna agradável, apesar da iluminação pouco acolhedora e da ameaça eminente de uma tela gigante (que felizmente nunca passou do slide inicial). Fomos recebidos por um empregado – pareceu-me ser o chefe de sala - que entre o didáctico e o paternalista lá nos foi explicando as características dos vários grupos de pratos do menu. Sim, porque entre entradas, sopas, saladas, pratos de caril, de peixe, de carne, completos, vegetarianos, acompanhamentos e sobremesas, existem 158 hipóteses de escolha! Por azar, das 7 escolhidas, apenas duas convenceram: a Tom Yam Goong – um dos pratos mais emblemáticos da Tailândia – (9.5€) e o pudim de abóbora com leite de coco. A primeira, uma sopa com gambas, sumo de lima, gengibre, leite de coco e ervas aromáticas, estava saborosa, com um contraste agridoce bem conseguido. O problema é que até chegar à sobremesa, tudo o resto roçou entre a mediania e a mediocridade. Os pastéis de peixe com caril vermelho e ervas aromáticas (7€) estavam banais e a galinha salteada em molho thai, gengibre, cogumelos pretos e abacaxi (13.50€), desenxabida, dando a sensação de que o frango – chamar-lhe galinha é um eufemismo – só tomou contacto com os parceiros de prato na hora de ir à wok. Pior mesmo foi o robalo ao vapor com molho de ervas thai e lima (14.5€). O objectivo de cozinhar a vapor é o de preservar as características dos alimentos, tornando-os mais saudáveis e saborosos. O problema é que o peixe era por certo de viveiro e nem as ervas thai lhe conseguiram transmitir algum sabor. Para compor o ramalhete, os acompanhamentos, pagos à parte, estiveram ao mesmo nível: o arroz de jasmim (2.5€), grudado – embora não tivéssemos pedido a versão “sticky rice” – e os vegetais (3.5€) entre o cru e o afogado em molho de soja. Talvez por causa deste naufrágio todo, a sobremesa, o tal pudim de abóbora que referi no início, tenha sabido tão bem. A acompanhar a refeição, bebemos um Esporão branco (19.5€) – de uma carta de vinhos assim para o carote, curta e proeminentemente composta por tintos – que só a muito custo foi servido em copos minimamente adequados (primeiro recusámos uns “tipo” pastelaria e, depois, recusámos uns flutes). O serviço foi lento e atabalhoado, com troca de pedidos e desculpas esfarrapadas do género “a casa está cheia” (mesmo que tivéssemos sido dos primeiros a chegar).
Pode ser que das outras 151 opções se consigam conjugar outras 7 de forma a obter-se uma refeição agradável. Fico à espera de relatos nesse sentido. Por mim, passo.
A conta: 77€, 2 pessoas.


Morada: Rua D. Pedro de Alcântara, 65,67 e 69 Lisboa. Telef: 21 343 00 39

publicado originalmente no jornal OJE (www.oje.pt) em 4 de Outubro de 2006

terça-feira, outubro 03, 2006

Arroz, Rice, Riz, Riso...

Li hoje no DN e no Público que o Vítor Sobral ganhou o concurso mundial de receitas de arroz, organizado pela Academia Internacional de Gastronomia. À falta de uma foto da sua cabidela de frango, deixo aqui uma foto de um modesto risotto de lima com gambas e alho caramelizado em manteiga e azeite. Os convidados, como pessoas educadas que são, disseram-me que estava bom (eu achei que estava para lá do ponto).