quinta-feira, maio 31, 2007

Dá no esse e larga a cola

Soube esta semana que, no próximo dia 10 de Junho, Luís Baena deixa Catralvos. E agora que pretexto tenho para ir a essas bandas comprar Esses de Azeitão?

p.s. a joaninha é cá da casa, não vem na embalagem.

quarta-feira, maio 23, 2007

Nas mãos de Augusto

Restaurante Galeria-Gemelli

O restaurante d esta semana é considerado por muitos um dos melhores italianos de Lisboa. Por aqui não há pizas, bolonhesas, sole mios, toalhas aos quadrados ou outros clichés associados à restauração deste país, fora de portas. Estamos num restaurante de cozinha de autor feita de acordo com as raízes, o conhecimento e a inspiração de Augusto Gemelli. Nos últimos anos fiz uma dezena de refeições nesta casa, umas vezes à carta, outras vezes à “mesa do chefe” (uma excelente ideia, em tempos disponível, onde, por 25€/30€ tinha um mini menu degustação completamente ao improviso do dia – só era aceite uma mesa por dia, para duas pessoas); outras vezes ainda em jantares associados a eventos vinícolas (o restaurante é muito solicitado para eventos deste tipo, dada a paixão e conhecimento nesta matéria do Augusto e do seu sommelier, Rui Rodrigues). Famosas são também as cartas temáticas de produtos de estação, de onde se destaca o menu especial de trufas. Desta vez o que me levou lá foi o menu “Espargos& Sauvignon Blanc” que está disponível nesta altura durante algumas semanas. O tema é curioso, para não dizer provocador, porque se trata de associar um produto a uma casta, em que uma das suas principais características, sobretudo nos vinhos provenientes da Nova Zelândia, é precisamente o aroma a este vegetal. Começámos pelo anti pasti de espargos brancos na “plancha” com foie gras e ragout de figos confits (11.50€). Funcionou bem esta original combinação de contrastes entre o ligeiro acídulo dos espargos, a gordura e sabor delicado do foie e o doce dos figos confitados (melhorou ainda após uma pitada extra de flor de sal). Nesta secção provei ainda os espargos verdes fritos em azeite e vieiras coradas na chapa (9.5€), com estas ultimas a saírem prejudicadas precisamente por mal terem passado pela chapa. Como primeiro prato, a opção recaiu no “risotto” de espargos brancos, com peitos de codornizes crocantes e redução de marsala (18.5€). Boa ligação dos elementos, num risotto feito com mestria (só foi pena que os espargos, tal como já tinha acontecido anteriormente, estivessem algo fibrosos). O prato de peixe, ramalhete de linguado com espargos verdes cozidos a vapor e cous cous de legumes (26.5€), funcionou melhor como um todo do que individualmente, com o linguado um pouco sensaborão. Melhor em matéria de carnes, com a o milfolhas de vitela, espargos e queijo fumado, gratin de batata e trufa negra (26.5€), embora neste, o fumado do scamorza se evidenciasse em demasia (os espargos ainda contrastaram, mas todos os outros componentes ficaram algo escondidos – sobretudo a trufa negra). A acompanhar, seguiu-se a indicação do menu, sendo que os vinhos vieram a copo, de acordo com a recomendação do somellier (15€/pax). Entre o PKNT 05 (Chile), Marquês de Riscal03 (Espanha), Matua Valley 05, Secret Stone 05 (ambos da Nova Zelândia) e o Les Moulins à Vent 05 (França) a preferência recaiu nestes dois últimos (difícil apenas a conciliação entre este tipo de brancos e o prato de carne, e uma nota menos positiva para um cansado Marquês de Riscal – talvez fosse preferível uma colheita mais recente ou até mesmo uma outra opção). O serviço é de muito bom nível mas apesar da casa comportar apenas 30 lugares, a cadência com que os pratos chegam à mesa chega a ser exasperante – talvez seja por isso que um dos empregados traz ao peito um pin com o símbolo do movimento Slow food, um caracol. Nada que afaste a clientela, na maior parte habitués minimamente abastados (e pelos vistos já habituados a este cerimonial de câmara lenta), que colocam confiantemente em Agusto Gemelli a escolha do que vão degustar. Só se fosse masoquista ou maldoso é que poderia dizer que não se come bem por aqui. Contudo, o resultado nem sempre está de acordo com o que se paga, raramente menos de 50€/pax, para uma refeição completa de entrada, prato, sobremesa e vinho.

Rua de São Bento 334 - Lisboa1200-822 LISBOA ; telef: 213952552

publicado originalmente no jornal OJE (www.oje.pt) em 23 de Maio de 2007

terça-feira, maio 15, 2007

Baby Bistro


"Em cima, o restaurante era francês, mas, em baixo, na cozinha, era mexicano e indiano. Depois, quando um paquistanês foi contratado, passou a ser mexicano, indiano e paquistanês."
Kiran Desai in "A Herança do Vazio"

quarta-feira, maio 09, 2007

Em Alvalade, do Fiolhoso ao Alentejo

Restaurante Salsa e Coentros

Quando um restaurante de bairro consegue sair da caixa e ganhar adeptos um pouco por toda a cidade ao ponto de ser apontado como um dos melhores exemplares de comida regional de Lisboa (neste caso numa curiosa combinação entre Alentejo e Trás-os-Montes), no mínimo, o apetite manifesta-se. E será razão para tanto? Digamos que vale a pena a visita, mas também não é caso para vir de Fátima a pé. Siga então de carro pela Rio de Janeiro e estacione ali para lados do quartel dos bombeiros. Pergunte pelo nome da rua ou pelo restaurante, que não vai ser difícil encontra-lo. Se não quiser ficar à espera nas escadas de acesso à sala principal, reserve com antecedência. Quando se sentar o mais provável é que já estejam na mesa umas pequenas empadas de galinha (1€, cada). Não lhes resista pois são muito boas, de massa estaladiça, sem ponta de oleosidade, com um recheio rico e saboroso (desde as do Fialho, em Évora, que não comia umas assim). Depois, se quiser, avance para uns ovos de espargos selvagens (9.95€),. Os nossos estavam macios, suculentos, com os espargos num contraste crunchie como se exige. Esqueça a salada de pimentos com coentros (a menos que lhe garantam o duo da selecção das quinas; os vermelhos, a solo, estavam mais para compota do que para entrada), barre uma fatia de pão alentejano com o bom paté de fígado de aves (1.5€) feito na casa e parta para o prato principal. Aqui recomendo-lhe os filetes de garoupa (12.95€), de polme perfeita a deixar realçar a boa qualidade do peixe (já o arroz de tomate e pimentos espero que venha mais apurado e que estes sejam de melhor qualidade, agora que está aí a sua época natural). Ainda nos pratos principais, provavelmente, quererá insistir na empada, até porque, sendo esta de perdiz (12.95€), soa melhor aos sentidos do que a de galinha. Para dizer a verdade, confesso que gostei mais das de entrada, não que a massa não estivesse igualmente boa, mas porque o recheio de perdiz deveria apresentar um gosto mais marcado (já o arroz de grelos que a acompanhava pareceu-me mais bem conseguido do que o anterior, com um toque assertivo de azeite a marcar-lhe o sabor). Se não quiser ir por aqui tem na carta muito por onde escolher, nós ficamo-nos, mas digo-lhe que, por gula, estive quase a dar uma garfada numa alheira do Fiolhoso com grelos salteados e num arroz de lebre que passaram por mim. Chegado às sobremesas imperam os ovos, mas também há chocolate, maçã assada e requeijão com doce de abóbora. Se for como eu que não consigo resistir a uma sericaia a sorrir para mim (2.5€), não vai arrepender-se, pois é muito boa (seca por fora e de textura ligeiramente humedecida por dentro, como devia ser sempre!).
Nos vinhos imperam as leis do mercado sendo a carta dominada pelas regiões do Douro e do Alentejo (compreensível dada a origem das propostas gastronómicas). A nossa refeição foi muito bem acompanhada com o Lavradores de Feitoria, Três Bagos, Sauvignon Blanc 2005 (Trás-os-Montes), que tal como os restantes pares está na carta a um preço muito convidativo (14.50€).
Por ultimo deixe-me referir que o serviço espelha muito bem a filosofia do local: competente, descontraído e afável.
Não vá então a Alvalade à espera de encontrar o terceiro segredo da gastronomia regional em Lisboa, mas pode ir com a certeza que terá uma boa experiência, mesmo que, como eu, aqui ou ali, gostasse de uma mão mais apurada no tempero.

Custo médio de refeição completa, com vinho: 25€/30€ pax

Rua Coronel Marques Leitão 12 Alvalade – Lisboa ; Telefone: 218410990

publicado originalmente no jornal OJE (www.oje.pt) em 9 de Maio de 2007