sexta-feira, março 30, 2007

Sopa de Massa e a Prima Santola



Na próxima 4ªF, no Oje, irei escrever sobre uma magnífica sopa de crustáceos folhada, uma bela sopa de santola, entre outros... Não se oferecem prémios mas se alguém quiser adivinhar o local, faça favor.

quarta-feira, março 21, 2007

Há Duas Sem Três

Restaurante Sessenta Setenta

É impossível chegarmos ao Sessenta Setenta e não ficarmos deslumbrados com o local. Primeiro, o Douro como cenário. Depois, o espaço interior valorizado por um trabalho de arquitectura de um bom gosto irrepreensível (encenação de linhas depuradas num contraste entre materiais contemporâneos e o granito base do edifício original). A primeira vez que aqui estive foi no ano passado, num jantar em que foi apresentado um menu próprio para acompanhar champanhes da casa Deutz. Nessa altura a experiência não foi muito positiva, pelo que resolvi voltar este ano, na esperança de encontrar um conteúdo à altura do embrulho. Só que, uma vez mais, voltei a não sair satisfeito. Terei tido azar pela segunda vez?
Comecei por declinar a sugestão do menu de degustação – é que da primeira vez este era composto por quatro ou cinco pratos, com uma alheira inteira com grelos salteados a servir de remate final (de boa qualidade, mas completamente desajustada em termos quantidade e de timing). Na carta, os pratos são nomeados da forma mais simples, na maior parte das vezes, sem qualquer tipo de descrição – pelo que é necessário recorrer a uma cassete humana que vai debitando pela enésima vez o que podia estar minimamente descrito no menu (só por conhecimento prévio ou por uma manifesta falta paciência é que alguém pede uma salada ou uma massa Sessenta, por exemplo, sem querer saber do que se trata. Será marca da casa ou uma certa preguiça que paira no ar? Provavelmente serão as duas coisas. Se bem que a experiência seguinte, com a carta de vinhos, leva-me a crer que se trata efectivamente deste segundo caso. Achei estranho que na mesma não existisse nenhum tinto do Douro posterior a 2002 (quando o normal seria a predominância das colheitas de 2003 e 2004), mas ao pedir um Vale de D. Maria desse ano (34€) a foi-me referido que, de facto, a lista não estava actualizada e que alguns vinhos eram, na verdade, de colheitas mais recentes. Estes casos que referi poderiam ter sido apenas pormenores sem grande relevância se o que veio para a mesa tivesse feito esquecê-los. Mas tal não aconteceu. E a coisa até começou bem com o Patattu (6.20€), um original e saboroso gratinado de batata, castanhas, azeitonas, favas e queijo de cabra. Como prato principal, veio um carré de borrego (16€), de boa qualidade, mas afogado num pesado molho (que me pareceu) à base de natas, sendo acompanhado de feijoca (combinação esta que também não achei muito sugestiva). Tive ainda oportunidade de experimentar a sapateira com creme de pêra abacate (8€), de entrada, e o folhado de foie gras (16.50€). Por bom que estivesse este ultimo - e estava – a opção de o apresentar como prato principal (em vez de uma versão mais reduzida, como entrada), servido apenas uma docíssima compota como acompanhamento, é discutível, na medida em que facilmente nos cria uma sensação de enjoo antes de chegarmos ao fim, sem contudo cumprir a sua função mais básica: saciar-nos a fome.
As sobremesas foram trazidas a dois tempos - sem razão aparente (aliás, em geral, o serviço revelou-se pouco profissional embora esforçado e simpático): primeiro a marquise de chocolate (4€) – boa, sobretudo, porque o chocolate era de qualidade – e o souflé de Grand Marnier (6€), que deste liquido alcoólico, pouco ou nada lhe senti o sabor.
Até percebo que se pretenda praticar uma cozinha simples e descontraída. No entanto, entendo que numa cozinha actual deva existir um ponto de equilíbrio entre elementos que sirvam de complemento e/ou de contraste, situação que não vislumbrei muito por aqui. Talvez seja essa a razão pela qual saí pouco tentado a voltar.
(Preço médio de refeição completa, com vinho: 40€/45€/pessoa).

Rua de Sobre o Douro, nº1 A, Porto.Telf: 22 340 60 93


publicado originalmente no jornal OJE (www.oje.pt) em 21 de Março de 2007

quarta-feira, março 07, 2007

A Sustentável Leveza do Ser: Vinho e Coisas (muito) Boas

Restaurante Degusto

A primeira vez que fui ao Degusto foi num evento vínico. Na altura fiquei muito bem impressionado com o projecto em que está inserido; e com bastante inveja por não existir, em Lisboa, um espaço desta envergadura, que reúna uma grande loja de vinhos e um restaurante. Nascido como braço armado da Vinho&Coisas (loja e distribuidora de vinhos), o Degusto estava nessa altura bem munido na parte vínica (como seria de esperar), mas muito pólvora seca na componente gastronómica – um semi-desgusto, portanto. Provavelmente, apercebendo-se de que precisavam de alguém que pudesse valorizar de uma forma mais consequente a parte de restauração, foi contratado há cerca de 5 meses Vítor Claro, um dos Chefes mais promissores do nosso país. Com a experiência adquirida com vários Chefes de renome, a sua chegada ao Degusto verifica-se após ter deixado o seu manifesto vincado na sua pequena casa de culto em Lisboa, o Pica no Chão, antes de uma curta passagem pelo controverso Xtoril, (para não falarmos do período de aparente inactividade num mega projecto previsto para Carcavelos que nunca chegou a existir). Vítor Claro é mais um daqueles “teimosos” que insistem na valorização dos produtos portugueses e na reinterpretação do património gastronómico nacional, inserindo-os num contexto mais abrangente de uma cozinha de fusão, com cabeça, tronco e membros.
Dada a hora tardia a que chegámos ao restaurante após uma tortuosa viagem nocturna, numa destas sextas-feiras, o organismo pedia-me, subtilmente, para que não exagerasse. Ainda ignorei o conselho com a entrada de creme de lentilhas e peito de codorniz (5€) mas, no principal, resisti à cabidela de pica no chão, e optei por um diet lombo de garoupa escalfada (18€). Posso-me queixar da opção, mas não da sua confecção, que nos recorda que estamos em território de pescadores. A garoupa vinha acompanhada de boa batata cozida, outros elementos do mar (vieiras e mexilhões) e espargos cortados finamente, dando um contraste assertivo a toda aquela subtileza marítima. Como não fiquei muito satisfeito com a opção (por culpa minha, volto a frisar), atirei-me ao prato da frente que vinha a cobiçar, desde que veio para a mesa (quem me acompanha nestas andanças já sabe que tem de aturar estes meus impulsos). Tratava-se de uma asa de raia com açorda, azeitonas e coentros (16€). E se a aparência já fazia crescer água na boca, a prova superou todas expectativas: excelente a matéria-prima, melhor o tratamento dado. Ainda hoje me pergunto como é possível fazer uma açorda com aquela leveza. Sem exagero, este prato entra directamente para o Top 5 de todos os degustados no âmbito destas críticas do Oje. Como não havia capacidade para muito mais e a cabidela não me saía da cabeça, voltei no dia seguinte, ao almoço, apenas com este propósito. E ainda bem que o fiz porque tive a oportunidade de experimentar mais uma proposta muito bem conseguida e novamente de uma leveza notória: no prato, lombo de pato fumado fatiado e duas asas de galinha, desossadas e muito saborosas (provavelmente beneficiadas por uma cozedura lenta). A acompanhar, o arroz que dá nome ao prato - malandrinho como se quer -, com os elementos bem integrados e uma subtil acidez a equilibrar o conjunto (como é sabido, na sua confecção, o sangue do animal é o elemento preponderante), transmitindo, mais uma vez, leveza a um prato que na sua forma tradicional é bastante pujante. Na véspera, de sobremesa, ainda houve espaço para um original creme de chá verde com gelado de arroz basmati (5€). Apesar do chá verde pouco se fazer sentir, a ligação entre esta espécie de zabaione com o forte sabor do basmati funcionou, para não variar, muito bem.
Quanto aos vinhos, sem querer ir muito além, refiro apenas que se trata do restaurante português com a melhor e mais completa carta dos vinhos (nacionais e estrangeiros), com preços pouco superiores aos de venda em loja – coisa raríssima no nosso país – e servidos em copos adequados e a temperaturas correctas. Espero que o Degusto consiga manter este nível entre as componentes vínica e a gastronómica. Se a ele acrescentarmos o bom nível de serviço que também evidenciou, temos um caso sério. (Preço médio de refeição completa, com vinho: 40€/pessoa).

Rua Sousa Aroso, 540 – 544, Matosinhos.Telf: 22 9364363

publicado originalmente no jornal OJE (www.oje.pt) em 7 de Março de 2007

terça-feira, março 06, 2007

Periquita DeBorla


Lembro-me de aqui há uns anos entrar numa loja de BTT e encontrar umas bicicletas da marca Kona. Na altura lembro-me de questionar quem é que se lembraria de importar um produto com este nome e quem é que teria coragem de andar por aí montado numa. (Pior mesmo seria que uma qualquer equipa de ciclismo as adoptasse e tivesse também como patrocinador os armazéns DeBorla).
Esta elegante introdução vem a propósito de uma notícia que li algures esta semana sobre um novo produtor que vai lançar uma gama de vinhos com a denominação, Quinta do Pinto. O facto de ir apostar na exportação fez-me pensar na adequação de determinadas marcas/nomes a mercados importantes como o brasileiro, por exemplo. Já existe nesse mercado o Periquita, cujo o nome, em português do Brasil, remete para o sexo feminino. Só falta termos por lá o Monte do Cabaço (que tem o mesmo significado) e já agora o tal Quinta do Pinto (que será o equivalente a termos por cá, um Quinta da Pila).