Restaurante 100 Maneiras
Ao longo dos últimos anos habituei-me a ler na crítica especializada e ouvir de amigos referências bastantes elogiosas ao restaurante 100 Maneiras e ao seu chefe Ljubomir Stanisic. De receitas em revistas a várias intervenções públicas, fui vendo Ljubomir consagrar-se como uma referência de primeira linha da nossa restauração de topo. O corolário deu-se com a publicação do seu livro, numa edição exemplar, como é raro ver no nosso país. Até hoje, por preguiça ou falta de oportunidade, a visita ao seu restaurante foi sendo sucessivamente adiada. Até que há umas semanas atrás, no fórum Os5as8.com, me deparei com novos relatos de entusiasmo. Tinha chegado a hora, não havia mais como adiar. Meti-me no carro e apontei em direcção a Cascais. Pelo caminho fui mentalmente adivinhando sabores, inventando estratagemas para um provável ligeiro excesso alcoólico e, até mesmo, redigindo esta crítica já pronto a chamar-lhe, o Deco desta nossa selecção nacional do garfo. O problema é que, por vezes, quando antecipamos demasiado as coisas criamos demasiadas expectativas. Isto quer dizer que a experiência foi má? Não, apenas não houve o “click” que esperava. Mas vamos à descrição. Como tem sido hábito neste tipo de restaurante, optou-se pelo menu de degustação (53€). Após o couvert, com manteiga e diversos tipos de pão, e o amuse bouche da praxe, as hostes abriram com uma espuma de batata, crumble de broa de milho e aroma de trufa branca. Muito bom o contraste de texturas entre o crumble e o aveludado do creme, bem como o aroma de trufa a transmitir alguma intensidade de sabor. De seguida, Camarão Salteado com Lasagna de Cogumelos e Cebola acidulada. É curioso porque recordo ter visto recentemente este prato num anúncio e não o ter achado muito atractivo (ou se calhar o anúncio é que era muito tosco). Na verdade, qualquer outra imagem do site do restaurante nos faz salivar mais do que esta proposta. De qualquer forma, quando os ingredientes são de boa qualidade e o chefe sabe o que está a fazer, a combinação resulta, mesmo que, neste caso, sem grande excitação. Este estado esteve mais próximo de ser alcançado com o Foie gras de pato salteado, coulis de manga com uvas e redução de vinho do Porto. Belíssimo o foie gras, apenas prejudicado pela exiguidade dos acompanhamentos (a gordura do foie necessita de mais luta). Passando aos principais, primeiro veio o Atum em crosta de sésamo, legumes glaceados e molho de chalotas caramelizadas. Por azar o meu veio demasiado passado. Mas mesmo recorrendo à versão correcta, pescada no prato da frente, o resultado não agradou. A opção de confecção asiática – mais à tailandesa do que à japonesa –, vinha tão carregada de sabor de sementes de sésamo, molho de ostra e molho de soja, que mais parecia um chop suey, com o sabor delicado do atum, semi cru, a ficar completamente comprometido (diria que num blind test passaria facilmente por carne – daí talvez a sugestão de que fosse acompanhado por um vinho tinto). O segundo prato, Lombo de borrego salteado, queijo da Serra, Morangos e Cebola Crocante, podia ter feito esquecer o momento anterior, dado a excelência da peça, bem como a ligação com os morangos e os aros de cebola frita - até mesmo o queijo da serra se mostrou em equilíbrio, não ofuscando o sabor da carne. O que aconteceu foi que, mais uma vez, o acompanhamento foi parco. O que questiono não é a quantidade dos elementos, suficiente no global da do menu de degustação, mas sim a sua proporção em cada um dos pratos. O toque de magia veio apenas no final, com o Falso Cheese Cake (assim mesmo denominado) servido numa taça, com a bolacha esfarelada em forma e textura de gelado, ao invés da habitual base sólida – já antes, para limpar o palato, a provocação tinha ficado no ar com o shot, “Ilusão de Tarte de Limão”.
De referir o serviço eficiente e o tratamento exemplar dado aos vinhos, sendo estes servidos a temperaturas correctas e em copos apropriados. A lista, embora não muito extensa, é abrangente, com presença das principais referências nacionais, algumas estrangeiras e uma breve descrição sobre cada um dos vinhos. De destacar ainda, os preços sensatos e as várias hipóteses de vinho a copo. Foi assim possível acompanhar a refeição com um branco, Dona Berta Rabigato 05, para a espuma de batata e para o camarão salteado; um colheita tardia, Granjó 2004 Late Harvest, para o Foie e mais tarde para a sobremesa; e ainda o tinto Quinta da Revolta 02 para o atum e para o borrego.
Por último, é de referir que estamos a falar de um espaço com uma localização privilegiada – com vista para a baía -, requintado e informal, o que conjuga todos os elementos necessários para uma excelente refeição. Caso haja um pouco mais de magia. No final, com a conta, entregaram um formulário para preencher, com a referência, “você é o nosso melhor crítico, ajude-nos a melhorar”. Na altura não o fiz, mas aqui estão agora os meus fifty cents. A conta, essa foi um pouco mais elevada, 148€ (2 pax).
Rua Fernandes Tomás 1 Hotel Villa Albatroz - Cascais2750-342 Cascais ; Telefone: 214835394
publicado originalmente no jornal OJE (www.oje.pt) em 21 de Setembro de 2006
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