Restaurante Kabuki
Como fanático pela comida japonesa que sou, tenho por hábito frequentar este tipo de restaurantes, em quase todos os países onde vou. Sobretudo quando já estou farto da comida local ou em cidades cuja riqueza da oferta está muito virada para a cozinha étnica, como é o caso de Londres, Nova Iorque ou Amesterdão. Fazê-lo numa cidade rica gastronomicamente, como Madrid, pode parecer estranho. Mas se referir que se trata de um local que aposta na fusão da cozinha nipónica com a espanhola, o caso muda de figura. Foi esta particularidade que me atraiu ao Kabuki, situado perto do estádio do Real de Madrid (existe uma filial no r/c do Hotel Wellington) e que é comandado por um chefe espanhol, Ricardo Sanz, que consta nunca ter estado no Japão. Pode-se lá ir jantar na base de Sushi e Sashimi, mas ficar por aí não adianta muito a uma experiência no lisboeta Aya (aliás, são raros os japoneses em que estive que o superassem), pelo que o investimento no menu de degustação (10 pratos, 75€+Iva) é uma peça fundamental para compreensão desta proposta hispano-nipónica.
O duelo teve início com um escabeche de perdiz doce com algas, uma boa combinação entre a alga wakame e a perdiz, num escabeche de sabores citrinos e adocicados.
De seguida, robalo cru fatiado em duas versões: uma com crocante de coco e outra com patê de trufa branca. Embora tanto o crocante (e o molho q o acompanhava) como a trufa se sobrepusessem ao sabor do peixe, não o anulavam, pelo que o resultado foi delicioso. No quarto prato inverteram-se os papéis e tivemos Espanha com tempero nipónico, numa agradável salada com flores de courgete recheadas de salsicha fresca e juliana de legumes. De seguida chegou-nos um atum marinado picante (demasiado intenso para o meu gosto) antes de se prosseguir com um fantástico sashimi de ventresca de atum, de qualidade como poucas vezes vi e saboreei (gordura raiada de forma uniforme, textura sedosa e sabor majestoso). Ao sétimo prato, uma provocação em forma de vários sushis: uns com ovo de codorniz estrelado e trufa negra no topo, outros de peixe manteiga – no desfazer-se na boca percebia-se o porquê do nome - e outros com um pequeno hambúrguer grelhado. Uma provocação deliciosa ( bitoques destes, não me importava de comer todos os dias, mesmo c peixe à mistura!). De seguida ainda houve tempo para uma tempura de verduras e urtigas do mar (de sabor idêntico a um bivalve), antes de chegarmos ao momento mais esperado da noite com famosa e caríssima carne de Kobe, geralmente referida como a melhor carne de vaca do mundo (a tal em que os animais são massajados e alimentados a cerveja, para que a carne se apresente tenra e com uma riqueza de sabores únicos). Na proposta que nos chegou – acompanhada de cogumelos shitake e um crepe de legumes – a mesma veio marcada pela chapa, apresentando-se devidamente mal passada no interior. O resultado foi bom, com quase todos os predicados que lhe é atribuída, mas um pouco prejudicada pelo tostado (provavelmente devido a uma chapa demasiado quente). Para finalizar, e a provarem-me mais uma vez de que as sobremesas não são um forte dos restaurantes japoneses (mesmo que em versão hispânica), um trio composto por sorvete de maracujá, gelado de chá verde e pequenos pastéis de massa de arroz recheados de nata e morangos, que serviu sobretudo para acalmar a necessidade de açúcar que sempre tenho no final de uma refeição.
De destacar ainda a óptima carta de vinhos, de onde se escolheu um branco Austríaco, o Pichler05, da casta Gruner Veltliner e ainda um outro branco, desta vez espanhol, o Vallegarcía 04, um bom exemplar da casta francesa Viognier, uma casta pouco usada aqui pela Península Ibérica. Estes dois exemplos acompanharam muito bem toda a refeição, provando que o melhor acompanhamento para esta cozinha oriental não passa necessariamente pelo sakê ou pela cerveja. Por último, resta-me referir que o serviço foi afável e competente, o que contribuiu para a valorização desta tremenda refeição. E até “la dolorosa” foi simpática (108€, pessoa), tendo em conta o que se costuma pagar em restaurantes de topo. Arigato, olé!
Contactos: Avda. Presidente Carmona 2, 28020 Madrid T·914176415 www.restaurantekabuki.com
publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 24 de Outubro de 2007
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1 comentário:
No género, em Madrid, gostei muito do Nodo, na calle Velasquez
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