Restaurante Terreiro do Paço
Cresci gastronomicamente a ouvir falar de Victor Sobral, conhecido como o Chef que renovou a cozinha portuguesa (juntamente com Joaquim Figueiredo) e actual responsável pelo restaurante sobre o qual escrevo esta semana. Acompanho-o desde os tempos dos Sofitel, já lá vão uns bons 15 anos, embora só algum tempo depois, no início da Cervejeira Lusitana, em Carnaxide, tenha tido o prazer de espetar o garfo num prato por si criado. Frequentei um dos seus cursos para curiosos e ia com regularidade ao seu restaurante do golfe da Belavista sobretudo, quando me apetecia o seu lombo de peixe-galo corado sobre migas. Com a sua passagem para o Terreiro do Paço - com a consequente subida da bandeirada - e o aparecimento de novos restaurantes de cozinha de autor, reduzi drasticamente a assiduidade à sua mesa, continuando, no entanto, a ter consideração pelo seu trabalho mesmo quando começou a ser criticado por se dedicar mais à vertente mediática e empresarial em detrimento da cozinha.
Da meia dúzia de vezes que passei pelo Terreiro do Paço, nunca de lá vim rendido e também não foi desta ultima que isso aconteceu. Um olhar mais atento percebe que aquele espaço, embora com a personalidade que a historia lhe deu, apresenta alguns problemas que se repercutem na refeição. A sala principal é tão distante da cozinha, e tem um formato tão anacrónico, que para serem eficientes no timing da entrega dos pratos, os empregados são obrigados a mover-se a um ritmo demasiado acelerado. Resultado: a comida chega por vezes fria (ou perto disso) e o stress é indisfarçável - felizmente bem contrastado pela postura calma do escanção de serviço.
Existem à disposição do cliente três menus de degustação: o menu Terreiro, de 4 pratos (37€), o menu Paço, de 5 pratos (46€) e Terreiro do Paço, 6 pratos (55€). Neste jantar a escolha recaiu nos dois primeiros, tendo sido permitida a troca de dois dos pratos. Optou-se ainda pelo suplemento de vinhos que acompanha o menu (21€ e 26€, respectivamente), com um vinho a copo diferente por prato, numa selecção feita pelo escanção de acordo com as propostas a degustar (e que em geral funcionou correctamente).
O jantar teve início com um entretenimento de boca sem grande memória, um shot de sopa de abóbora e bacalhau frio desfiado. O primeiro prato, taco de atum na chapa c geleia de romã e wasabi chegou mais frio do que tépido não deixando, no entanto, de revelar a excelente qualidade do produto e a boa associação com alguns sabores orientais (wasabi e molho de soja). A acompanhar, uma dispensável mousse de camarão e atum que soube a pouco mais do que uma vulgar pasta de atum mas que esqueci rapidamente com a chegada do prato seguinte, o excelente carpaccio de bacalhau com uma espetada de línguas e mandioca, frita, envolta em boa polme, em jeito de tempura.
De seguida, pedi para me trocarem o cherne no forno, pelo Peixe-galo corado que veio com creme de maçã e hortelã, espargos verdes e ervilha torta. Estava bom mas não me apagou da memória a versão com migas do golfe da Belavista que referi no início. Já o peito de pato caramelizado deixou algo a desejar, sobretudo nos acompanhamentos de inspiração tropical (banana assada e farofa de foie) que mesmo pontuado com um creme de gengibre, não foi suficiente para evitar que o conjunto se revelasse seco de mais.
Do prato da frente houve ainda a oportunidade de pescar, uma ostra com puré de beringela e vinagrete de berbigão (num conjunto agradável mas prejudicado pelo excesso de cozedura da ostra); um bom queijo de cabra, gratinado de maçã verde e pesto de pistáchios e, sobretudo, uma excelente sobremesa de três tipos de creme brullée diferentes: coco, pinhões e fava de tonka e laranja e hortelã – proposta mais interessante do que a que constava no meu menu: bolo de chocolate, creme de alperces e gelado de queijo.
Em termos gerais não posso deixar de considerar que a refeição ficou acima da média, mas, no entanto, aquém do que o Chef Victor Sobral é capaz de proporcionar e, sobretudo, muito aquém do preço que se pagou, 148€/2 pax (para além do referido acima consumiu-se ainda, 2 cafés, o couvert e uma garrafa de água).
Contactos: Terreiro do Paço Praça do Comércio LisboaE. Tel: 210 312 850 (http://www.terreiropaco.com/)
Publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 13 de Fevereiro de 2008
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4 comentários:
Posso saber quais foram os vinhos sugeridos???
um abraço
Como desapareceu o papel onde tinha anotado os vinhos, cito de memória (com toda a probabilidade de erro subjacente):
Com o menu de 5 pratos:
Soalhaeiro 06, 3 Pomares branco06, Casa Santa Vitória branco 06, Pilheiros Lurton04, Croft LBV00
Com o menu de 4 pratos:
Espumante Quinta do Encontro, Lagoalva de Cima branco, Pilheiros Lurton04, Colecção Privada DSF Moscatel 00
"Do prato da frente ouve ainda a oportunidade de pescar..."
Ouve???
não me diga que nunca ouviu aquele som característico da ostra a sair da concha!!!
ok, agradeço o reparo, o texto já está devidamente corrigido.
P.S. se vir por aí a revisora do Oje, parta-lhe uma perna por mim (é tão mais fácil culparmos os outros pelos nossos erros :-)))
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