quarta-feira, julho 02, 2008

Uma estrela segura

Restaurante Willies

Na mesa do lado um casal de irlandeses em férias falava calorosamente do bom tempo, de como é bom jogar golfe no Algarve e de como se comia bem por aqui. Trocavam opiniões com o empregado bonacheirão que lhes ia trazendo as iguarias e o evoluir do marcador do jogo Holanda x Rússia. Os comentários iam sendo partilhados com outra mesa de irlandeses e, por extensão, connosco, que estávamos entre ambos. No final, visivelmente ruborizados pelo sol do Algarve e pelo vinho do Alentejo, os dois casais trocavam opiniões sobre os restaurantes que tinham ido desde que estavam por ali. A coisa resultava em gargalhada porque nunca conseguiam lembrar-se do nome dos sítios. Mas ali, onde estávamos, tinha sido o melhor, além de que o nome era fácil de pronunciar: “Willies”. Da outra mesa uma loira platinada rematava: “absolutly the best in Portugal”.
O Willies, detentor de uma estrela Michelin, é um bom restaurante, tem um serviço muito competente e, pelos vistos, para os estrangeiros – a grande maioria dos clientes – tem um nome fácil de pronunciar. Consta que é também um dos lugares preferidos de Manuel Pinho – embora a popularidade descendente do nosso ministro da Economia talvez não seja a publicidade mais querida pelo restaurante.
Como é comum a sul, desde que o tempo o permita, as refeições fazem-se no exterior, neste caso, no terraço da casa que lhe dá lugar, numa zona residencial de luxo, em Vilamoura.
Neste restaurante pratica-se uma cozinha de autor mas não existe menu de degustação, o não é muito comum num restaurante “estrelado” deste género. Nas entradas predominam as propostas do mar, enquanto que nos principais, existem cinco pratos de peixe e outros cinco de carne.
Começámos por uma sapateira desfiada sobre puré de abacate e toranjas (15.50€). Saborosa e fresquíssima, a sapateira, com a “gordura” do abacate a ligar bem e a toranja a funcionar como contraponto acídulo. Ainda no campo das entradas provei o feu de bric recheado de foie gras e maçã em molho de trufa (18€): mais uma vez uma boa conjugação de sabores e de contrastes, aqui, também, em termos de texturas (estaladiço da massa bric e o foie que se desfaz na boca). Nos pratos principais optei por umas excelentes costeletas de borrego (28.50€) que chegaram num ponto perfeito (rosadas). Acompanhava, legumes baby cozidos a vapor e um gratinado de batata. A redução dos sucos da carne, com um apontamento de tomilho, conferiu ao conjunto uma mais valia considerável. Neste prato tudo me pareceu clássico, mas em termos de sabores, foi do melhor que comi nos últimos tempos. Já menos interessante, pareceu-me o filete de peixe-galo com massa fina, legumes e molho de champanhe (29€).
De sobremesa aceitei a sugestão da casa e optei por uma do dia - pela qual acabei por não morrer de amores: cerejas cozinhadas numa calda própria, acompanhadas de gelado de baunilha (13€). Muito melhor, a que fui debicando no prato da frente: uma espécie de crumble de pêra em massa folhada e gelado de noz (12€).
Em termos de vinhos, de uma carta medianamente composta, escolhemos um Valle Pradinhos branco(22€) para os peixes e, para as carnes, um Dão, tinto, da Quinta dos Carvalhais - o Colheita Seleccionada ( 9.50€/copo). Ambos se mostraram escolhas acertadas, embora o tinto tenha vindo uns graus acima da temperatura correcta (já agora: exigem-se melhores copos para o vinho branco).
Em jeito de resumo diria que Wilhelm Wurger (o experiente Chef e proprietário, residente há mais de 20 anos no Algarve, tendo sido responsável pelas cozinhas do La Reserve - o primeiro restaurante do Algarve a conseguir uma estrela Michelin - e do S. Gabriel, onde esteve 7 anos) pratica uma cozinha de autor sem grandes rasgos, é certo, mas muito segura, privilegiando a utilização de matéria-prima de grande qualidade. Não é o melhor restaurante do país, mas é sem dúvida uma boa aposta. Uma aposta com o seu custo, mas merecedora de visita.

(preço médio por refeição completa com entrada, prato e sobremesa: 80€ (pax, com vinho)

Publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 2 de Julho 2008

Contactos: Rua do Brasil, 2, Vilamoura Tel 289 380 849 (http://www.willies-restaurante.com/)

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