Restaurante Galeria-Gemelli
O restaurante d esta semana é considerado por muitos um dos melhores italianos de Lisboa. Por aqui não há pizas, bolonhesas, sole mios, toalhas aos quadrados ou outros clichés associados à restauração deste país, fora de portas. Estamos num restaurante de cozinha de autor feita de acordo com as raízes, o conhecimento e a inspiração de Augusto Gemelli. Nos últimos anos fiz uma dezena de refeições nesta casa, umas vezes à carta, outras vezes à “mesa do chefe” (uma excelente ideia, em tempos disponível, onde, por 25€/30€ tinha um mini menu degustação completamente ao improviso do dia – só era aceite uma mesa por dia, para duas pessoas); outras vezes ainda em jantares associados a eventos vinícolas (o restaurante é muito solicitado para eventos deste tipo, dada a paixão e conhecimento nesta matéria do Augusto e do seu sommelier, Rui Rodrigues). Famosas são também as cartas temáticas de produtos de estação, de onde se destaca o menu especial de trufas. Desta vez o que me levou lá foi o menu “Espargos& Sauvignon Blanc” que está disponível nesta altura durante algumas semanas. O tema é curioso, para não dizer provocador, porque se trata de associar um produto a uma casta, em que uma das suas principais características, sobretudo nos vinhos provenientes da Nova Zelândia, é precisamente o aroma a este vegetal. Começámos pelo anti pasti de espargos brancos na “plancha” com foie gras e ragout de figos confits (11.50€). Funcionou bem esta original combinação de contrastes entre o ligeiro acídulo dos espargos, a gordura e sabor delicado do foie e o doce dos figos confitados (melhorou ainda após uma pitada extra de flor de sal). Nesta secção provei ainda os espargos verdes fritos em azeite e vieiras coradas na chapa (9.5€), com estas ultimas a saírem prejudicadas precisamente por mal terem passado pela chapa. Como primeiro prato, a opção recaiu no “risotto” de espargos brancos, com peitos de codornizes crocantes e redução de marsala (18.5€). Boa ligação dos elementos, num risotto feito com mestria (só foi pena que os espargos, tal como já tinha acontecido anteriormente, estivessem algo fibrosos). O prato de peixe, ramalhete de linguado com espargos verdes cozidos a vapor e cous cous de legumes (26.5€), funcionou melhor como um todo do que individualmente, com o linguado um pouco sensaborão. Melhor em matéria de carnes, com a o milfolhas de vitela, espargos e queijo fumado, gratin de batata e trufa negra (26.5€), embora neste, o fumado do scamorza se evidenciasse em demasia (os espargos ainda contrastaram, mas todos os outros componentes ficaram algo escondidos – sobretudo a trufa negra). A acompanhar, seguiu-se a indicação do menu, sendo que os vinhos vieram a copo, de acordo com a recomendação do somellier (15€/pax). Entre o PKNT 05 (Chile), Marquês de Riscal03 (Espanha), Matua Valley 05, Secret Stone 05 (ambos da Nova Zelândia) e o Les Moulins à Vent 05 (França) a preferência recaiu nestes dois últimos (difícil apenas a conciliação entre este tipo de brancos e o prato de carne, e uma nota menos positiva para um cansado Marquês de Riscal – talvez fosse preferível uma colheita mais recente ou até mesmo uma outra opção). O serviço é de muito bom nível mas apesar da casa comportar apenas 30 lugares, a cadência com que os pratos chegam à mesa chega a ser exasperante – talvez seja por isso que um dos empregados traz ao peito um pin com o símbolo do movimento Slow food, um caracol. Nada que afaste a clientela, na maior parte habitués minimamente abastados (e pelos vistos já habituados a este cerimonial de câmara lenta), que colocam confiantemente em Agusto Gemelli a escolha do que vão degustar. Só se fosse masoquista ou maldoso é que poderia dizer que não se come bem por aqui. Contudo, o resultado nem sempre está de acordo com o que se paga, raramente menos de 50€/pax, para uma refeição completa de entrada, prato, sobremesa e vinho.
Rua de São Bento 334 - Lisboa1200-822 LISBOA ; telef: 213952552
publicado originalmente no jornal OJE (www.oje.pt) em 23 de Maio de 2007
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