Restaurante Salsa e Coentros
Quando um restaurante de bairro consegue sair da caixa e ganhar adeptos um pouco por toda a cidade ao ponto de ser apontado como um dos melhores exemplares de comida regional de Lisboa (neste caso numa curiosa combinação entre Alentejo e Trás-os-Montes), no mínimo, o apetite manifesta-se. E será razão para tanto? Digamos que vale a pena a visita, mas também não é caso para vir de Fátima a pé. Siga então de carro pela Rio de Janeiro e estacione ali para lados do quartel dos bombeiros. Pergunte pelo nome da rua ou pelo restaurante, que não vai ser difícil encontra-lo. Se não quiser ficar à espera nas escadas de acesso à sala principal, reserve com antecedência. Quando se sentar o mais provável é que já estejam na mesa umas pequenas empadas de galinha (1€, cada). Não lhes resista pois são muito boas, de massa estaladiça, sem ponta de oleosidade, com um recheio rico e saboroso (desde as do Fialho, em Évora, que não comia umas assim). Depois, se quiser, avance para uns ovos de espargos selvagens (9.95€),. Os nossos estavam macios, suculentos, com os espargos num contraste crunchie como se exige. Esqueça a salada de pimentos com coentros (a menos que lhe garantam o duo da selecção das quinas; os vermelhos, a solo, estavam mais para compota do que para entrada), barre uma fatia de pão alentejano com o bom paté de fígado de aves (1.5€) feito na casa e parta para o prato principal. Aqui recomendo-lhe os filetes de garoupa (12.95€), de polme perfeita a deixar realçar a boa qualidade do peixe (já o arroz de tomate e pimentos espero que venha mais apurado e que estes sejam de melhor qualidade, agora que está aí a sua época natural). Ainda nos pratos principais, provavelmente, quererá insistir na empada, até porque, sendo esta de perdiz (12.95€), soa melhor aos sentidos do que a de galinha. Para dizer a verdade, confesso que gostei mais das de entrada, não que a massa não estivesse igualmente boa, mas porque o recheio de perdiz deveria apresentar um gosto mais marcado (já o arroz de grelos que a acompanhava pareceu-me mais bem conseguido do que o anterior, com um toque assertivo de azeite a marcar-lhe o sabor). Se não quiser ir por aqui tem na carta muito por onde escolher, nós ficamo-nos, mas digo-lhe que, por gula, estive quase a dar uma garfada numa alheira do Fiolhoso com grelos salteados e num arroz de lebre que passaram por mim. Chegado às sobremesas imperam os ovos, mas também há chocolate, maçã assada e requeijão com doce de abóbora. Se for como eu que não consigo resistir a uma sericaia a sorrir para mim (2.5€), não vai arrepender-se, pois é muito boa (seca por fora e de textura ligeiramente humedecida por dentro, como devia ser sempre!).
Nos vinhos imperam as leis do mercado sendo a carta dominada pelas regiões do Douro e do Alentejo (compreensível dada a origem das propostas gastronómicas). A nossa refeição foi muito bem acompanhada com o Lavradores de Feitoria, Três Bagos, Sauvignon Blanc 2005 (Trás-os-Montes), que tal como os restantes pares está na carta a um preço muito convidativo (14.50€).
Por ultimo deixe-me referir que o serviço espelha muito bem a filosofia do local: competente, descontraído e afável.
Não vá então a Alvalade à espera de encontrar o terceiro segredo da gastronomia regional em Lisboa, mas pode ir com a certeza que terá uma boa experiência, mesmo que, como eu, aqui ou ali, gostasse de uma mão mais apurada no tempero.
Custo médio de refeição completa, com vinho: 25€/30€ pax
Rua Coronel Marques Leitão 12 Alvalade – Lisboa ; Telefone: 218410990
publicado originalmente no jornal OJE (www.oje.pt) em 9 de Maio de 2007
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