Restaurante Panorama
A primeira vez que ouvi falar de Henrique Sá Pessoa foi quando ainda estava no restaurante Flores, do Hotel Bairro Alto. A fama conquistada pelo seu trabalho neste local valeu-lhe o convite para dirigir o restaurante principal do Sheraton de Lisboa que, no âmbito da recente remodelação, quis dotar o hotel de um restaurante de referência - falava-se mesmo no objectivo de conquistar uma estrela Michelin a curto/médio prazo. Após o sururu da inauguração, fui lendo e ouvindo opiniões diversas e alguns relatos de desacertos mais ou menos normais em início de actividade, nomeadamente ao nível do serviço.
O Panorama fica no último piso do hotel e é, seguramente, o restaurante com a melhor vista de Lisboa. A sala é confortável e espaçosa, e qualquer cliente se sente cómodo com uma certa informalidade deste local de decoração minimal chic. Se em anterior visita, ao almoço, o local pareceu-me frequentado sobretudo por empresários e políticos, neste jantar, predominava um publico mais jovem, informal e não se sentia muito a presença de hóspedes (o que por si só mostra o espaço conquistado em termos de autonomia em relação ao hotel – coisa rara, por cá, na maior parte dos restaurantes das grandes cadeias hoteleiras). Na carta recebemos as boas vindas do Chef que de forma sucinta nos explica os quatro pilares base da sua cozinha (simplicidade, harmonia, vanguarda e prazer). Estamos manifestamente perante uma carta de cozinha de autor em que o menu de degustação se apresenta como a melhor opção: existe na versão de cinco e de sete pratos (50€ e 65€, respectivamente), sendo que no primeiro caso (a opção que escolhemos) o custo é menos elevado do que solicitar à carta, entrada, prato e sobremesa.
O jantar iniciou-se com um amouse bouche, numa boa conjugação de vieira e puré de aipo nabo. O primeiro prato, aveludado de funcho com brunoise de camarão funcionou de forma harmoniosa quer em termos de sabores, quer de texturas, com uma redução de camarão a puxar mais para o lado do mar, mas sem ofuscar o sabor anisado do funcho. Seguiu-se uns escalopes de foie gras de pato salteados sobre pêra em calda e redução de xerês (bom mas sem deslumbrar). Nos pratos principais a primeira proposta foi um robalo corado na pele com esmagada de batata, camarão e polpa de sapateira. O robalo veio um pouco passado demais e com a pele insuficientemente estaladiça. (Também não fiquei muito fã da esmagada de batata e considero questionável a presença de camarão em dois dos cinco pratos do menu). Já o prato seguinte proporcionou o momento alto da noite: um lombo de novilho Angus laminado com legumes no wok, chutney de manga e redução de soja e sésamo. Carne de grande qualidade, no ponto perfeito de cocção (foi sugerido que viesse de acordo com o ponto em que o chef achasse correcto). A conjugação com os elementos asiáticos funcionou na perfeição, com uns belíssimos legumes bem marcados pela wok e muito bem ligados com a redução de soja. De antologia! Para finalizar, de sobremesa, foi apresentado um interessante (mas não mais do que isso) clafoutis de amêndoa e frutos vermelhos, com gelado de rum e passas e massa kadaiff.
No que diz respeito a vinhos, bebeu-se com o foie gras, Granjó Colheita tardia 2005 (8€/copo); com o peixe, Marqués de Riscal branco 06, (6€/copo); com o novilho, Altas Quintas 2004, (6€/copo) e, com a sobremesa, um Porto Poças LBV 2000 (11.5€/copo) – sendo que a temperatura a que foram servidos os dois últimos deixou algo a desejar.
Por ultimo, o serviço foi correcto e atencioso, apresentando uma melhoria significativa em relação ao almoço que tinha lá feito anteriormente.
Em termos globais a apreciação é positiva, mas penso ser necessária uma maior afinação e mais arrojo nas propostas apresentadas, nomeadamente no menu de degustação. Só assim poderão cumprir, com maior rigor, o terceiro mandamento enunciado na carta (vanguarda) e atingir com maior frequência, o quarto mandamento (o prazer de ver e ouvir a satisfação dos clientes depois de uma refeição). Por esta refeição, com água, cafés e couvert, pagou-se 175€/2 pax.
Contactos: Hotel Sheraton Lisboa, Rua Latino Coelho 1 - Lisboa ; Telefone: 213120000
publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 29 de Agosto de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Arquivo do blogue
-
►
2009
(22)
- ► junho 2009 (1)
- ► abril 2009 (3)
- ► março 2009 (6)
- ► fevereiro 2009 (6)
- ► janeiro 2009 (4)
-
►
2008
(39)
- ► dezembro 2008 (2)
- ► novembro 2008 (2)
- ► outubro 2008 (5)
- ► setembro 2008 (2)
- ► julho 2008 (3)
- ► junho 2008 (3)
- ► abril 2008 (6)
- ► março 2008 (6)
- ► fevereiro 2008 (1)
- ► janeiro 2008 (2)
-
▼
2007
(43)
- ► dezembro 2007 (4)
- ► novembro 2007 (2)
- ► outubro 2007 (3)
- ► setembro 2007 (4)
- ► julho 2007 (4)
- ► junho 2007 (5)
- ► abril 2007 (4)
- ► março 2007 (4)
- ► fevereiro 2007 (3)
- ► janeiro 2007 (5)
-
►
2006
(47)
- ► dezembro 2006 (5)
- ► novembro 2006 (12)
- ► outubro 2006 (6)
- ► setembro 2006 (5)
- ► agosto 2006 (4)
- ► julho 2006 (15)
Sem comentários:
Enviar um comentário