quarta-feira, abril 09, 2008

Sobe, sobe, “Belon” sobe

Brasserie Flo

A cadeia de hotéis Tivoli iniciou uma pequena revolução nos seus espaços restaurativos. O restaurante do terraço do Tivoli Lisboa está neste momento em obras e irá abrir em breve sob a responsabilidade do chefe Luís Baena .No seguimento desta mesma estratégia, chega agora a Portugal, a Brasserie Flo - a funcionar no piso térreo onde anteriormente estava o restaurante Beatriz Costa - dos mesmos proprietários da La Coupole, em Paris, e cujo a cadeia tem vindo a implantar-se em várias cidades importantes do mundo .
Mesmo que a tradução de Brasserie nos remeta para a palavra cervejaria, ao entrarmos neste espaço, essa semelhança é tão próxima como a distância entre Lisboa e Paris.
A carta é bastante completa e nela consta desde um dos pratos mais típicos das brasserie de origem alsaciana de Paris, o Choucrute, como várias propostas de mariscos, peixes e carnes (magret de pato, entrecôte, chateaubriand). Mas a mais-valia que trazem para Lisboa são mesmo as ostras, não que não existam por aí, amiúde, mas sobretudo, pela sua diversificação de variedades. Assim sendo não podíamos deixar de começar por este molusco, vendido em doses de seis unidades.
Não sei se por cortesia, ou por incentivo (provavelmente, pelas duas razões), chegou-nos, logo de início, dois pares de ostras do Algarve. Fresquíssimas e de forte sabor marítimo. Fazem parte da carta (12.50€) tal como as de Setúbal (13.50€). Mas não desfazendo, até porque estas são relativamente fáceis de encontrar por cá, estávamos ali para apreciar as variantes gaulesas e, dos cinco tipos diferentes disponíveis (tendo em conta a origem local e o calibre, optámos pelas duas espécies mais cotadas: as Gillardeau (16.50€) e as Belons (26.50€), ficando para outras núpcias as mais comuns, Fine de Claires (entre 14.50€ e 18€). Ora, partindo das ostras do Algarve para as Gillardeau, a diferença não foi muita, embora estas ultimas tenham um sabor mais suave e um ligeiro toque a avelã. Já quanto às Belons… estas são mesmo um caso sério: cheias, de sabor fino e prolongado quase até ao infinito – talvez sejam a prova que Deus existe.
Apetecia continuar por ali e experimentar todas as outras, até porque, infelizmente, 16 conchas daquelas não constituem nenhuma orgia. Mas regressámos à Terra e quisemos experimentar, pelo menos, uma das propostas de peixe e outra de carne. Assim, seguiu-se uns filetes de salmonete (19.50€) e, depois, um Onglet de vaca (22.50€), ambos muito bons e cozinhados num ponto de cocção correcto (médio, o peixe; mal passado, o naco de carne). A acompanhar o peixe vinham diversos legumes simples (feijão verde e cenoura) aconchegados em folha de brik. Acompanhava a carne um gratin dauphinois (gratinado de batata) leve e enxuto, o que pareceu ser uma boa opção tendo em conta o molho à base de natas, demasiado intenso (tal como o do salmonete) para o (meu) paladar lusitano.
Pena que as sobremesas não tenham estado ao nível do que descrevi atrás. Os profiteroles com baunilha e chocolate quente Valrohna (10.50€) estiveram longe de merecer o preço: “massudos”, gelado banal e, até o chocolate, não parecia ter a qualidade que o Valrohna normalmente tem). As “illes flottantes” com creme inglês (7.50€), nome chique dado a algo semelhante às nossas farófias, estavam demasiado enjoativas, tal era a doçura dos vários componentes que a compunham (praliné, creme inglês e claras em castelo adocicadas).
A carta de vinhos está longe de ser extensa, nomeadamente ao nível de champanhes (o acompanhamento ideal para as ostras), cujo o preço proibitivo nos remeteu para outras latitudes. E aqui encontrámos algumas referências gaulesas, pouco vistas por cá. Assim, a acompanhar a primeira parte bebemos um interessante Pouilly Fumé, Domaine Bonnard 2005 (32€) e, com a carne, o Lagoalva tinto 2006 (5.50€/copo), prejudicado pela temperatura demasiado elevada a que foi servido. O serviço foi eficiente e simpático, o que é de salutar, numa casa aberta há pouco tempo.
Quero crer que a Beatriz Costa, que viveu durante anos neste hotel, não iria levar a mal terem substituído o restaurante, com o seu nome, por esta Brasserie Flo. Entreguem-lhe uma dúzia de “belons” onde quer que ela esteja agora, sff.

(Preços com vinho, a partir de 35€/40€,pessoa. A refeição aqui descrita ficou em 75€/pessoa)

Contactos:
Avenida da Liberdade,185 Lisboa (Hotel Tivoli). Telefone: 21 3198977
www.brasserieflolisboa.com

Publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 9 de Abril de 2008

2 comentários:

Artur Hermenegildo disse...

Miguel, como sabes também fui à Brasserie FLo e gostei muito.

Recomendo também como alternativa para ostras de Setúbal (só têm estas) a esplanado do São Carlos.

O serviço das ostras tem dois pormenores que me agradaram muito: as ditas vêm separadas da concha (eu vejo-me sempre aflito para as separar e frequentemente trago indesejáveis bocados de concha agarrados) e sobretudo o tradicional limão em quartos é substituído por um "shot" de sumo de limão onde podemos mergulhar as ostras com vantagem - e no final até o podes beber (eu bebi).

Miguel Pires disse...

Artur,
obrigado pela sugestão.
(é útil para os preguiçosos que não gostam duma lutazinha com a concha ;)