quinta-feira, julho 17, 2008

A fama existe, o essencial não vi

Restaurante Ramires

Há quem ache que eu só vibro com ostras, foie gras, confits, vieiras e afins. Pois deixem que vos diga: por vezes nada me sabe melhor do que um bom frango assado. Mais: de preferência, comido à mão em dia de jogo da Selecção ou do Benfica e obrigatoriamente acompanhado por uma Sagres ou por uma Super Bock normal, bem fresca (várias, se o jogo for do Benfica – há que esquecer rapidamente o provável mau resultado final). Nos últimos anos, em Junho, tenho apontado a sul para uns dias de praia. Como não podia deixar de ser aproveito também para pôr a “escrita” em dia no que diz respeito a restaurantes. Normalmente visito um ou dois dos galardoados com estrelas Michelin (como é sabido o Algarve possui a maior concentração, em Portugal, de restaurantes deste tipo) e também um ou dois mais tradicionais (a gastronomia da região é rica e distinta e só é pena que passe ao lado da maior parte das pessoas que por aqui veraneiam).
O frango da Guia não sendo propriamente um produto tradicional é no entanto um prato bastante popular na localidade que lhe deu o nome e nas suas imediações. A sua fama ultrapassou mesmo as fronteiras regionais através de uma rede de restaurantes que utilizam o nome genérico como identidade. Há vários espaços por onde escolher, eu sempre o fiz aleatoriamente e sempre me dei bem com o método. Mas desta vez procurei ir ao original, àquele que deu origem a todos os outros: o Ramires.
O Ramires na verdade já não é um restaurante mas sim um complexo restaurativo com várias salas. Felizmente apanhei a mais pitoresca de todas, aquela que parece ser a original. É uma sala com vida e vivida. A presença do dono, José Carlos Ramires, (tido como o inventor da receita original - cujo o segredo, segundo consta, está no molho à base de óleo e piripiri), é evidente um pouco por todo lado: seja no busto ao fundo da sala, seja nas diversas fotografias e notícias de jornais onde é proeminente a sua dedicação às colectividades locais.
Pena que por vezes a fama faça com que se descure no essencial. Naquilo que lhes deu fama. Pode ter sido azar meu, mas as falhas que encontrei, no dia em que lá almocei, foram demasiado evidentes.
O primeiro indicio começou cedo, quando pedimos o menu. É certo que quem ali se desloca sabe ao que vai, mas também não é caso para um olhar de desdém só porque alguém pede o menu. A lentidão e falta de simpatia e de profissionalismo de quem nos atendeu não augurava nada de bom. Mas até estava disposto fazer vista grossa a esse “detalhe” quando chegasse o pequeno frango da praxe, estaladiço e marcado pelo calor das brasas. Acontece que o que nos chegou (13€, um frango para duas pessoas), não sendo mau, desiludiu precisamente pela a ausência das características que referi. Era pequeno sim, mas parecia ter passado pela grelha eléctrica e não pela de brasa. O molho embora revelasse o sabor característico estava demasiado oleoso. As batatas fritas que acompanhavam eram de tal forma más que tive dificuldade em descortinar se eram das congeladas, ou se tinham cozido por não serem de grande qualidade, ou por terem sido atiradas para a frigideira antes do óleo ter atingido a temperatura ideal de fritura. Neste desconsolo acabou por se safar a salada e tomate, bem maduro e firme, polvilhada com orégãos (2.80€) e, de sobremesa, um suculento D. Rodrigo (1.80€) - este sim, belíssimo.
Não vou desistir do frango da Guia mas, para a próxima, volto ao sistema de escolha aleatória - colocando esta carta fora do baralho.
Por esta refeição, com café e imperial, pagou-se 12.24€/ pessoa. Valha-nos isso.

Publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 16 de Julho 2008

LocalizaçãoRua 25 de Abril 14 – Guia- Albufeira ; telefone 289561232
www.frango-da-guia.com

2 comentários:

@na disse...

ler este blog antes de almoço é doloroso, antes de jantar não é melhor... acho que vou comprar um frango...

Anónimo disse...

Pobrecito. Ainda bem que não foste comigo.