Restaurante Mezzaluna
Michele Guerrieri é um Napolitano que cresceu em Long Island (EUA) e que adoptou Lisboa para desenvolver a sua paixão pela cozinha, já lá vão uns dez anos. Na Rua de Artilharia 1 começou com o Mezzaluna e, anos depois, nesta mesma rua criou dois outros locais, mais acessíveis: já a chegar ao Largo do Rato, o La BrusKetta (agora também pizzeria), e, na outra extremidade, o City Sandwich, um “fast food” de sanduíches gourmet (“sem maionese, sem miolo, sem molhos gordurosos, e sem restos de galinha conservados”). Em qualquer um dos seus restaurantes há uma base italiana à qual Guerrieri faz questão de acrescentar uma vertente bem portuguesa, daí ser comum encontrarmos produtos como alheira, morcela, salsicha fresca, porco preto, ou queijo da serra. O Mezzaluna poderia ser o local onde deveria dar azo à sua faceta de autor. Na verdade, em parte isso acontece. No entanto ao olharmos para as propostas da sua carta ficamos com a sensação de que prefere jogar pelo seguro e assim contentar uma clientela assídua que frequenta o restaurante desde que este abriu as portas (ao almoço predomina uma clientela do mundo empresarial e da política; ao jantar, eventualmente os mesmos mas em versão informal e mais familiar). Não é que haja algum mal nesta opção, apenas tenho pena porque reconheço em Guerrieri um criativo cuja vertente de autor merecia ser mais explorada (nomeadamente a ligação italo-portuguesa).
Começámos o jantar com uma mousse de alheira, mozzarella fresca e cogumelos picados, tudo embrulhado em folhas de espinafres sobre pedaços de tomate salteado (8€). Combinação de sabores muito interessante com a alheira bem integrada, sem se sobrepor demasiado aos restantes componentes. Ainda de entrada vieram umas fatias de beringelas grelhadas a envolver queijo cabra, acompanhado do mesmo tomate salteado (5€). Bom mas não ao nível da entrada precedente. Nas massas (com o maior número de propostas de toda a carta, XX) lamentei a ausência do famoso Linguine negro (de tinta de choco) com lavagante. Como as sugestões de peixe não iam além do Salmão e de “Red Fish”, partimos directamente para as carnes. Quis experimentar mais uma combinação Italo-lusa e por isso pedi o porco preto enrolado com grelos salteados, redução de vinho branco e mozzarella derretida (15€). O enunciado prometia mais do que o que veio no prato. Não que não estivesse saboroso, porque estava, mas talvez porque a apresentação deixou algo a desejar. Tendo noção do peso que a combinação da carne com o queijo e a redução de vinho evidenciava, o corte com alguns legumes al dente (feijão verde e cenoura) pareceu-me inteligente - até porque compensava o sabor algo evidente do óleo da fritura, nas batatas às rodelas que acompanhavam. Do mesmo mal padeceu o outro prato de carne que experimentei, os medalhões de lombo de vaca à Mezzaluna com coração de chicória salteada no interior (17€). Foi pena porque percebia-se que a carne era de boa qualidade e que fora bem trabalhada.
No campo das sobremesas destaco a excelente e leve pannacota com doce de morango e um igualmente bom coulant de chocolate negro (4€, cada).
A refeição foi acompanhada com o tinto Vinha da Nora 2005 (28€), um syrah que se mostrou bom parceiro de toda a refeição (sobremesas, inclusive). Ainda neste domínio destaco os preços sensatos praticados, embora a temperatura de serviço do vinho não seja a mais correcta (por falta de guarda climatizada).
Por ultimo de referir que o serviço foi prestado com eficiência e correcção, o que é de louvar num sábado à noite de casa cheia.
(preço médio por refeição completa, com vinho, 35/40€)
Publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 15 de Outubro 2008
Contactos:
Rua Artilharia 1, nº16 – Lisboa; Telefone:213879944 www.chefguerrieri.com
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