Restaurante São Rosas
O São Rosas é um daqueles lugares cuja a ementa fixa raramente encontro algo de muito excitante mas de onde saio sempre satisfeito. De facto, qualquer coisa que se peça tem-se normalmente a garantia de que é bem confeccionada e que a matéria-prima é de grande qualidade. Além disso, é um lugar acolhedor, sem grandes modernices, mas diferente do ambiente rústico habitual dos restaurantes regionais. Acresce ainda que a presença regular nas várias listas dos melhores restaurantes portugueses acrescenta-lhes uma certa responsabilidade, que é correspondida na sobriedade e no cuidado com que somos recebidos, desde o serviço atencioso e profissional, à qualidade do tableware, passando pelo tratamento exemplar dado ao vinho. Mas dizia eu que as propostas da ementa não são muito excitantes, havendo mesmo algumas que não fazem grande sentido, como é o caso da salada de mozarela com tomate ou do salmão fumado. No entanto, nesta ultima vez as propostas oficiosas – que não constavam no menu fixo – eram de tal forma atraentes que as solicitámos quase todas. De entrada, vieram as túberas (14€) - espécie de trufa alentejana de textura próxima à do cogumelo vulgar, quando cozinhada - e uns cogumelos recheados com camarão (12€), ambos fritos em azeite e bom alho (daquele que infelizmente não encontramos nos nossos supermercados). Qualquer um dos pratos estava muito saboroso pecando apenas pelo excesso de azeite com que foram servidos. De seguida, foi a vez de uma especialidade da casa, a sela de borrego (18€). De gosto intenso, a peça foi servida com umas deliciosas ervilhas, batata primor assada e couve lombarda cozida, servindo esta de contraponto à gordura proveniente da assadura da carne.
Depois, foi a vez de uma tenra perdiz “partida à glória” (20€, meia perdiz), com um óptimo molho avinagrado, proveniente do estufado da ave. Tal como o primeiro prato, este também foi servido com batata e couve lombarda e um esparregado em vez das ervilhas (talvez o contrário fosse mais acertado: o adocicado das ervilhas é capaz de funcionar melhor com o avinagrado da perdiz e o toque de vinagre do esparregado ajudaria a cortar a gordura do Borrego). No final veio a desgraça: qual Alemão de Leste depois da queda do muro de Berlim, não resisti à mesa onde estavam expostas as sobremesas e, incentivado por quem nos atendeu, atirei-me ao pudim de água de Estremoz (hummm… não sei se vos diga, se vos conte!) e às farófias, maravilhosas, como só uma mãe as sabe fazer (ou pelo menos, como a minha sabe fazer). Para desenjoar, uma beliscadela nas trufas de chocolate do prato da frente.
Não posso terminar sem referir o bom serviço de vinhos e a forma exemplar como estes são tratados: servido à temperatura correcta, em copos apropriados (Riedel) e a preços sensatos. A carta é bastante completa, constando praticamente tudo o que de qualidade se produz no Alentejo, mas não se ficando por aí. Dela constam também as principais referências de outras regiões do país e bem como algumas boas opções de vinhos estrangeiros. Acompanhámos as entradas com um branco local, o Monte dos Cabaços (1,80€ o copo) e os pratos principais com um Esporão Touriga Nacional 03 (24.50€ a garrafa). Este último, com um pouco mais de taninos e menos fruta compotada que a famosa versão de 2001, deu uma boa réplica às propostas degustadas. No final a conta foi de 102€ (2 pax), o que se percebe tendo em conta as iguarias em causa. O que não se percebe é que estes pratos do dia não venham no menu com os referidos preços. É que apesar de termos noção que comer perdiz e túberas não é o mesmo que comer frango e cogumelos de lata, gostaríamos de ter uma ideia, à partida, de quanto é que a “extravagância” nos vai custar. Não será por certo este pequeno espinho que vai retirar o aroma a este bouquet de aromas e sabores, mas ficaria bem eliminá-lo. Até porque é muito fácil.
Largo D. Diniz,11 ; 7100-509 Estremoz ; Telefone: 268 333 345
publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 19 de Outubro de 2006
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