Restaurante Arola – Penha Longa
É cada vez mais comum, lá fora, grandes chefes de renome abrirem espaços de restauração mais acessíveis e informais, mantendo-os em paralelo com o principal restaurante - aquele onde se criou nome, onde se experimenta, onde se passa o conceito e a filosofia das propostas gastronómicas. Hoje um grande cozinheiro é também uma marca e embora existam alguns casos mais altruístas, o objectivo destes negócios paralelos tem sobretudo a ver com a expansão e rentabilização dessa marca. Cria-se o conceito a partir de algumas linhas mestras do original, adapta-se o mesmo a cada sítio, cria-se uma equipa e um parceiro local e voilá, a receita está pronta!
Não sei se foi assim que o catalão, Sergi Arola (duas estrelas Michelin em Madrid) chegou ao Hotel da Penha Longa, em Sintra, mas não devo estar a errar por muito. A primeira surpresa com que nos deparamos tem a ver com o espaço. À partida não se espera encontrar num clássico “Hotel&Golf Resort”, um espaço de design moderno, urbano, muito ao estilo lounge - como numa zona nocturna de cidade. Num primeiro olhar o espaço parece pequeno, mas quando o campo de visão aumenta percebe-se que é amplo e está inteligentemente subdividido ao ponto de se tornar aconchegante mesmo quando está só meio lotado. Chegar ali num Sábado de chuva e nevoeiro, passar pela imensidão de toda a envolvente verdejante do hotel - sem ver vivalma -, ser recebido com simpatia (e sem sobranceria) e encontrar um local assim bem concebido é estar já a pontuar ainda antes do jogo começar.
E o jogo tem muito por onde escolher. A ementa condiz com a informalidade do lugar: temos as entradas “Clássicos do Arola” (uma espécie de tapas com mais ou menos sofisticação), e os “quase um prato”. O Menu Sergi Arola (39€) tem de uns e de outros e embora alguns dos 7 pratos sejam para partilhar, no final, sentimo-nos reconfortados. Logo de inicio, um statement catalão: pão ligeiramente tostado, um dente de alho e tomate pequeno. Faça você mesmo: corte o alho e o tomate ao meio, esfregue ambos no pão, deite uma pitada de flor de sal e um fio de azeite e entretenha a boca enquanto espera. Comida de pobre em lugar de rico - gostei da provocação (embora a coincidência com a prova do vinho, não seja a mais indicada). Depois começaram a chegar as propostas, umas a solo outras em dueto. Primeiro as entradas frias: um escabeche de cogumelos selvagens, muito bom; um carpaccio de vieiras bem conjugado com maracujá e ovas de arenque e um tartar de bacalhau com vinagrete de gengibre, este demasiado subtil. Nas entradas quentes: umas deliciosas batatas bravas com aioli e recheadas com um molho de tomate ligeiramente picante; uma espuma de couve-flor com ovo de codorniz e salpicão - que teria sido perfeita com um pouco menos do enchido. Nos quase pratos, gostei muito da fideuá (massa valenciana) à pescador: prato de tacho com matéria-prima bem tratada (tamboril, camarão e choco) envolvidos num fundo apurado mas sem mascarar os sabores. Tive ainda oportunidade de provar o prato de carne e fiquei feliz por ter optado antes pela fideuá já que as fatias de peito de pato estavam demasiado insípidas apesar do saboroso mirepoix de legumes onde pousavam (já do salpicon de foie e das molejas do enunciado, não lhes senti a presença). Por ultimo, e já fora do menu, provei ainda o ovo a baixa temperatura acompanhado com pão com chouriço. Mais uma vez constatei que quando os produtos são bons e bem tratados, mesmo os mais simples, podem ter um efeito no palato tão reconfortante como o de qualquer iguaria mais sofisticada. Já a sobremesa poderia ser um pouco mais interessante: o bolo húmido, o gelado de manga e a mousse de chocolate espessa, ainda que bons, não fizeram mais do que cumprir a função doce de final da refeição.
No que diz respeito aos vinhos, a carta, bem como o serviço e os copos, pareceram-me bem ajustados ao tipo de restaurante. Só é de lamentar a opção por uma prática de preços absurdos, numa altura que finalmente se começa a ver, na nossa restauração, alguma contenção a este nível (acompanhou o menu, o branco Casal Figueira Tradition 2005 – 27€).
Por ultimo, de referir que o serviço simpático e descontraído (mesmo com um ou outro ponto a necessitar de afinação) contribuiu para a percepção final desta boa colecção prêt-à-porter de um cozinheiro de alta cozinha.
(preço da refeição descrita, com água e café: 115€/2 pessoas)
Publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 7 de Janeiro 2009
Contactos: Hotel Penha Longa - Estrada da Lagoa Azul, Linhó, Sintra ; Telefone: 21 924 9011 (www.penhalonga.com/)
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