Restaurante Sinal Vermelho
O Bairro Alto foi dos primeiros sítios, em Lisboa, onde muitos como eu começaram a jantar fora por conta própria. Juntava-se um grupo de amigos e procurava-se um lugar animado onde se pudesse comer e, acima de tudo, beber bem e barato. O conceito “comer bem” consistia em forrar o estômago generosamente de forma a termos uma resistência extra para aguentar o estado líquido pela noite fora. O tempo foi-nos apurando o gosto e as certezas absolutas de quem, com vinte e poucos anos, discutia as qualidades da Super Bock vs Sagres ou do João Pires vs BSE (a melhor cerveja e o melhor vinho do mundo, claro...). Nessa fase mais “adulta” já começávamos a desdenhar lugares de alimento e bebida a metro. Ao Casanostra e ao Pap’Açorda esperávamos poder ir um dia, mas, por enquanto, com os primeiros ordenados (umas fortunas, comparados com as ultimas mesadas) já nos considerávamos uns privilegiados por podermos frequentar a Tasca do Manel ou ao Bota Alta. Já não me recordo quando é que o Sinal Vermelho passou a fazer parte deste roteiro, mas sei que foi um dos poucos de que fiquei cliente por aquelas bandas. Continua a ser um dos sítios onde mais gosto de ir comer pataniscas ou carapauzinhos fritos com arroz de feijão ou de tomate (é que embora a qualidade do arroz tenha piorado continua a dominar-se, por ali, a arte da fritura). Os linguadinhos fritos também são muito recomendáveis, tal como as iscas com elas, o polvo à lagareiro ou, quando há, a cabidela de galinha.
Ao contrário da maior parte dos seus pares de vizinhança, o Sinal Vermelho possui uma sala espaçosa qb, toalhas e guardanapos de pano e copos de vinho bastante aceitáveis. Desta última vez que lá voltei obriguei-me percorrer outros pratos da lista e a decidir-me, primeiro, pelo magusto com bacalhau assado e, depois, por um coelho frito em vinha-d’alhos com batata frita e amêijoas - não sem antes confortar o estômago com um bom queijinho de ovelha amanteigado com a ajuda de uma boa broa de mistura. O magusto, uma espécie de migas (feitas com couve portuguesa, batata, cebola e alho) estava muito bem conseguido – ao nível do que se encontra pelo Ribatejo, de onde é originário. O bacalhau pecou por excesso de grelha, o que foi pena, uma vez que a posta alta que foi servida, prometia. Divinal é o mínimo que posso dizer do coelho frito: tenro e bem apaladado, com a marinada de vinha-d’alhos a valorizar e não a esconder o sabor da carne. No final a gula ainda permitiu saborear um bom leite-creme – a merecer que a capa de açúcar, queimada no momento, fique mais fina – e dar uma generosa colherada em baba de camelo alheia – saborosa mas demasiado liquefacta.
Em termos de vinhos a refeição foi acompanhada pelo branco alentejano, Paulo Laureano Premium, 2007, que ligou bem com ambos os pratos (não temendo a vinha de alhos). O serviço foi atencioso e eficiente, mesmo com uma ou outra falha menor - típica da azáfama de uma noite de fim-de-semana. Como é fácil de perceber vou continuar a ter boas razões para continuar a vir aqui deliciar-me com alguns dos meus pratos favoritos de cariz mais tradicional. É que, tal como no anúncio, este é um daqueles lugares em que o algodão não engana.
(Preço médio por refeição: 25/30€, pax, com vinho).
Publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 21 de Janeiro 2009
Contactos: Rua das Gáveas 89 (Bairro Alto)– Lisboa, Telefone:213461252
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