Restaurante Luca
Imaginem um local cujo o dono é Italiano, o chefe Japonês, a maior parte dos empregados de sala brasileiros e onde se pratica uma cozinha de base italiana com influência oriental, francesa e portuguesa. A isto acrescentem um bar marroquino onde se servem tapas e parece que estou a falar da sede do Programa Erasmus, de um restaurante da ONU, ou de um anúncio da Benetton. Mas não, refiro-me ao Luca, “o fenómeno”. Utilizo este epíteto porque este local é um verdadeiro case study. Os seus dois turnos nocturnos (20h e 22h) enchem-se, praticamente todos os dias, de pessoas dos mais diversos quadrantes sociais que se reúnem para apreciar a qualidade da cozinha aqui praticada, a simpatia e a eficiência de quem os atende. Para sucesso não será de estranhar, também, a generosidade das doses (mesmo as entradas), bem como um leque variado de propostas, que fazem deste local um dos mais democráticos que conheço – tanto é possível sair satisfeito por 20€ como extasiado por 50€. Acresce ainda a vantagem de estarmos num local agradável e de apresentação cuidada. Muito longe, por isso, do ambiente barulhento de outro tipo de democracia - a cervejaria.
Por vezes, vou lá quando me apetece simplesmente o excelente gnocchi com lagostins e molho de tomate (18.50€) ou o já clássico ravioli de camarão tigre e lima (15.90€); outras vezes, para um jantar mais completo, como foi o caso desta ultima visita, em que aproveitei para experimentar algumas novidades da carta sazonal. De entrada, começámos (como habitualmente, éramos dois) por partilhar umas vieiras em creme de cenoura, gengibre e lemongrass (13.60€) e uns filetes de cavala assados (9.80€) que vinham sobre feijão filet salteado e ajoblanco (creme andaluz à base de amêndoas, alho, migas de pão e azeite). Uma delicia, que só pecou pela quantidade (3 filetes é um exagero!). As vieiras, não atingiram o sétimo céu – como acontece com as suas companheiras de lista, em tatin com tapenade de azeitona preta (12.60€) - mas passaram com honra e distinção. A ligação de sabores funciona muito bem, mas falta-lhes maior contraste de texturas (apesar do estaladiço das amêndoas torradas). De seguida voltámos a um clássico, os tais gnocchi que referi. Acho que já comi este prato aqui para cima de meia dúzia de vezes e devo dizer que foi sempre excelente. Mais do que com outro qualquer ingrediente, quando estas pequenas bolas achatadas, feitas de trigo e batata, são más, podem ser mesmo muito ruins – é por isso que raramente as peço noutros lugares. Agora no Luca, é um prato obrigatório!
Para a etapa seguinte, em que teria dado jeito um estômago suplente, regressámos às novidades de época com uma peça de caça, mais propriamente um pombo no forno. Foi aconselhado que o mesmo fosse comido com as mãos (tendo sido fornecido um babete, de forma a prevenir qualquer imprevisto). Não foi necessário dado que já vinha dividido pelos dois e o tempo de assadura perfeito, permitiu a fácil utilização dos talheres (esta ave costuma ter uma carne rija quando demasiado mal passada, ou seca quando acontece o oposto – pelo que é fundamental acertar com o ponto, como foi o caso). O acompanhamento de aipo salteado, castanhas e arroz selvagem, trouxe uma profusão de sabores que harmoniosamente contrastaram com a intensidade do pombo e do consommé de carne que o acompanhava. Crente da teoria dos dois compartimentos (um para salgados e outro para doces), ainda consegui pedir uma sobremesa. Na verdade duas: o original Tiramisu Marroquino - gelado de líchias, creme de mascarpone, gelatina de chá, telha de Amêndoa e laranja marinada (no comments!) – e, para acabar em beleza, um bastardinho de Azeitão 30 anos (9.80€/copo), uma preciosidade única e que merecia um copo mais adequado, bem como ter sido servido a uma temperatura mais baixa. Aliás, estes são os únicos aspectos que gostaria de ver melhorado no Luca: melhores copos para vinhos (ou pelo menos, para alguns vinhos) e estes servidos à temperatura correcta. De resto, neste aspecto, a carta de vinhos, não sendo longa, possibilita várias e boas opções e os preços praticados são bastante razoáveis. Neste jantar, bebemos um Tiara Branco, 2005 (23.50€), com as entradas e os gnocchi, e um Ventozelo tinto, a copo, a acompanhar o pombo.
Ainda não é desta que os adeptos do “bota abaixo”- essa espécie mesquinha e pequenina que adora dizer mal e de tudo aquilo que se mantém sucessivamente em alta - vão poder ler algo de mau sobre este local. Já agora, também não faria mal nenhum que os Srs. do famoso guia Michelin estivessem atentos a este lugar. Não é nada que tire o sono à dupla Luca Manissero& Massahiro Kawai. Mas lá que merecem, merecem!
Rua Stª Marta 35, Lisboa ; Telefone: 21 315 02 12
publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 14 de Dezembro de 2006
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5 comentários:
Simplesmente excelente!
Simplesmente excelente!
Se este restaurante merece estar no guia michelin por causa da comida, eu também merecia estar num paraíso qualquer.
É um restaurante muito agradável de se estar,(tirando o bar marroquino, que nada têm a ver com o resto)muito bom atendimento, jantei por duas vezes,em nenhuma delas me agradou, uma delas foi um risoto com borrego, sabia a bedum que até enjoava maomé, outra foi penne com polvo, que de polvo não se via. e caro senhor eu não sou dos "bota abaixo" nem essa especie mesquinha e pequenina, mas tal como o senhor também tém o direito de fazer uma critica negativa com justa causa.
Alvaro Falcão
...por isso lhe concedo esse direito, mesmo não partilhando da sua opinião.
Eu comi quase os mesmos pratos e não coincido na apreciação.
http://www.os5as8.com/forum/viewtopic.php?t=4685&highlight=luca
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