domingo, novembro 05, 2006

Com Vegard no Encontro de Vinho e Sabores

Conheci Marte e Vegard, um casal de noruegueses, há 2 anos atrás, em Cochim, na Índia. A semana que passámos juntos, deambulando pela província de Kerala, criou em nós uma cumplicidade própria destes tipos de viagens, onde conhecemos pessoas dos vários cantos do mundo e partilhamos com elas um pouco das nossas vidas. Esta semana, recebi um email do Vegard a dizer-me que estava por Lisboa a aprender português, uma vez que vai 7 meses para Angola numa missão dos Médicos Sem Fronteiras. Como tinha previsto uma visita ao Encontro de Vinhos e Sabores (EVS), na antiga FIL, convidei-o a juntar-se a mim e a um outro amigo meu, para uma visita guiada através do estômago e dos sentidos. Vegard, já com um certo conhecimento sobre nossa língua e sobre as tascas e restaurantes populares de Lisboa (“querúm copu dê vinhu da casa dê banho, por favôre.”) estava maravilhado com a profusão de aromas e sabores com que se foi deparando ao longo da tarde. Quis ouvir tudo sobre as regiões, sobre os produtores, como se fazia este ou aquele vinho. Ficou deliciado de como aquele queijo era diferente dos das tostas mistas da leitaria da esquina e entendeu porque é que as pessoas esperavam ansiosamente por um pedaço de céu (leia-se, pata negra 5J). Na verdade, por ele, teria começado numa ponta e acabado noutra, não fosse explicar-lhe que teríamos de ser selectivos, ou o corpo não iria aguentar. Já no final, enquanto o Rui e eu nos extasiávamos entre a Taylor’s e a Fonseca, o bom do Vegard, agora de sentido prático mais apurado, estacionava na Vallegre não arredando pé enquanto não lhe contassem a história do vinho do Porto e lhe dessem a provar toda a gama, do branco seco ao Ruby, do Vintage ao 10 anos, acabando no Old white. Só não percebeu, numa conversa sobre águas - que apanhou pelo meio - porque é que alguém pagava 5 euros por uma Voss, quando na cidade dele, bastava abrir a torneira para a beber. Já perto das 21.30h, dado ter um compromisso para um jantar “Off EVS”, larguei-o em frente à Assembleia da República e vi-o caminhar em direcção à Madragoa. Ainda não voltei a falar com ele, mas acredito que, nessa noite, ao voltar beber um vinho da casa, lhe tenha sabido a vinho da casa de banho.

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