sexta-feira, novembro 17, 2006

Demasiado para tão pouco.

Restaurante Cop’ 3

Nos últimos anos surgiram em Lisboa vários restaurantes dirigidos a um público cosmopolita que gosta de jantar tarde. São normalmente lugares de pequena ou média dimensão, de decoração moderna e cuidada e com ementa e carta de vinhos exígua. O tipo de cozinha praticada varia entre a fusão de propostas de raiz portuguesa, italiana e asiática, de apresentação cuidada, por forma a enquadrar-se no conceito do restaurante e de quem o frequenta. O Cop’3, enquadra-se perfeitamente neste grupo e talvez também por isso se situe no perímetro do designado Santos Design District (nome pomposo dado por uma associação de comerciantes do bairro de Santos). Cheguei a ele após ter lido, recentemente, na imprensa, que o responsável pela cozinha, Nuno Mendes, acabara de ganhar o prémio de chefe cozinheiro do ano, (atribuído por um júri conceituado: Fausto Airoldi, Luís Baena, Dieter Koschina, Helmut Ziebell, entre outros), no âmbito do Festival Nacional de Gastronomia de Santarém. Dada a qualidade de quem validou este prémio fiquei com curiosidade de conhecer a sua cozinha. Tudo apontava que iria ter uma noite interessante, num ambiente descontraído e agradável, com profissionalismo e, o mais importante, com boa comida. Na verdade, tudo se passou ao contrário. Devia ter logo desconfiado quando nos foi apresentado, no couvert, uma pasta de atum – por melhor que seja o produto (e não era ventresca, certamente) não me parece que seja o melhor cartão de visita de um restaurante que se quer sério. Já de olhos na ementa verifico que a mesma é curta, o que neste tipo de restaurante não é necessariamente mau (mais vale pouco mas bem do que muito e mal). Fico com curiosidade por uma entrada de gaspacho sólido (9.50€) e pelo linguini neri di sepia com tempura de polvinhos (13.50€), como prato principal. O primeiro, servido com uma espécie de mousse de abacate, camarão em tempura (bom) e salada de folhas verdes, nada ganhou com o seu estado sólido, dado que a textura mais parecia a de um tomate farinhento e, o sabor, de gaspacho, apenas se deixava insinuar. Mas o pior foi mesmo o prato principal. Já vos aconteceu cozerem massa três ou quatro minutos para além do tempo sugerido? E fritarem algo em óleo, sem este ter atingido a temperatura necessária? Não sei se foi isto que se passou. O que sei é que este linguine estava demasiado cozido, vinha afogado num molho de natas e pimento e os polvinhos mais pareciam panados do que envoltos numa leve polme de farinha própria de tempura. Ainda forcei, mas não consegui dar mais do que três ou quatro garfadas. “O sr. não deve ter gostado muito”, ainda referiu a empregada ao levantar o prato. “Não gostei mesmo nada”, repliquei, explicando porquê e sugerindo que o chefe provasse aquele resultado. Nem uma palavra recebi, nem sequer a habitual sugestão de escolher outro prato. Um pouco mais de sorte teve quem me acompanhava, mas dentro do mesmo espírito de desilusão. O estaladiço de queijo de cabra (8.50€) estava bom, mas conseguiram a proeza de apresentar um funcho marinado, insípido (logo o funcho!). Salvou-se o pregado salteado com legumes ao vapor (20€), de boa qualidade, no ponto e apenas com o senão de a pele não vir minimamente crocante.
Das sobremesas acabei por apreciar os pastelinhos de creme de baunilha (5€) e a tarte tatin com gelado de baunilha (6.5€). Mais por não ter saciado a fome e de já não ter grandes expectativas do que por grande mérito das propostas.
Quanto à carta de vinhos, nem uma pontinha de novidade e com a agravante de a data de colheita apenas vir num ou dois casos. Valha-nos o preço aceitável, os copos apropriados e o Morgado de Santa Catherina 2004 branco (18€) que bebemos. Pelo menos serviu para diluir a desilusão. Pagámos por esta experiência 88.50€ (2 pessoas) e dificilmente se poderá ter uma refeição completa, com vinho, por menos de 35€/pessoa. É muito para tão pouco.

Largo Vitorino Damásio 3 - Lisboa. Telefone: 213973094

publicado originalmente no jornal OJE (http://www.oje.pt/) em 16 de Novembro de 2006

12 comentários:

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

"...talvez também por isso se situe no perímetro do designado Santos Design District (nome pomposo dado por uma associação de comerciantes do bairro de Santos)...."

Caro Miguel

Sinceramente não entendi esta... Pomposo?? Poquê??? Pois fica sabendo que esta Associação da qual a York House é fundadora, tem imprimido uma enorme dinâmica ao Bairro de Santos. Como poderás verificar no nosso site

http://www.santosdesigndistrict.com/

esta Associação e os seus sócios nada têm de pomposo, muito pelo contrário, estamos a lutar por uma requalificação de uma zona que se encontrava degradada, e que se está a tornar muito agradável.

Pensei que com a tua formação profissional, e com a tua ainda jovem idade, entenderias melhor este tipo de iniciativas... mas pelos vistos estás a ficar um "velho do RESTELO" em vez de um DESIGNER DE SANTOS


Um abraço amigo

Zé Tomaz

Anónimo disse...

Caro Sr.,

Por acaso sabe o que é o ''pomposo'' SDD ?

Experimente por favor dar uma vista de olhos no www.santosdesigndistrict.com

Melhores Cumprimentos

António Ramalho Carlos

(Presidente da Direcção)

Anónimo disse...

A culpa não é sua, é de quem o deixa publicar estes DISPARATES !!!
Que fica mal é o OJE...

Anónimo disse...

Na verdade é preciso sempre alguma inspiração para escrever.Ajuda no entanto se tivermos algumas regras fundamentais para quando não estamos inspirados:
A primeira (também serve para o dia a dia): Se não sabes dizer BEM,não digas mal.
A segunda (também simples) antes de olhares para os outros... olha para ti.Um abraço Gustavo Brito

Miguel Pires disse...

Caro Ze' Tomaz

Ninguem colocou em questao o trabalho da associacao. Apenas considero o nome pomposo, nada mais.

Quanto ao site ja' o conhecia. Foi de la' que tirei o contacto do restaurante.

Miguel Pires disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Pessoalmente agradeço a crítica, se bem que não fique minimamente espantado com o resultado da sua incursão a um desses restaurantes dirigido a um público cosmopolita (esta também me parece uma designação bem pomposa para a fauna que habitualmente polula nestes locais da moda). A regra é enfiar-se um barrete de campino até às orelhas, condimentado por uma conta que torna a experiência muitíssimo mais dolorosa.

Jose Tomaz Mello Breyner disse...

Caros Gustavo e António Carlos

Considero o Miguel um entendedor de Gastronomia, e tem-se revelado um excelente critico. Tenho a certeza que ele não conhece a realidade (actual e Futura) e todas as lojas de design que estão instaladas em Santos, e á primeira vista, não conhecendo a realidade de Santos aceito que se possa considerar um exagero o nome. O Miguel é uma excelente pessoa, um excelente criativo, mas também muito exigente nos conceitos daí que existindo ainda em santos algumas zonas menos nobres talvez ele tenha achado que a zona AINDA não é na sua totalidade um Design District. Tenho a certeza, porque o conheço bem, que não existiu a menor maldade nesta frase do Miguel, mas como pessoa muito directa, ele acha certamente que Santos ainda não é na sua totalidade um Design District. Mas Miguel, falamos em 2 anos.

Um abraço

Zé Tomaz

Miguel Pires disse...

Caro Gustavo Brito

Quem me conhece sabe que nao tenho prazer nenhum em dizer mal de um restaurante. Agora estaria a prestar um mau servico se omitisse o que aconteceu nesta experiencia.

(P.S. escrevo neste momento num teclado sem acentos nem cedilhas)

Miguel Pires disse...

Sendo este um espaco privado, nao tenho por habito permitir a publicacao de comentarios anonimos. No entanto, abro excepcoes, desde que nao sejam (muito)insultuosas.

Anónimo disse...

Caro Miguel
A critica à critica teve a ver unicamente com os adjectivos que muitas vezes utilizamos para reforçar determinadas ideias.
Chamar "pomposo" é adjectivar e a designação de Design District foi muito discutida pelo grupo que lhe deu origem .Só será pomposo por ter ambições de comunicar com gente de fora de Portugal?
Um abraço Gustavo Brito

Bruno disse...

Caro Miguel,

Não entendo o porquê de tanto ataque por teres colocado o nome Pomposo na critica. Eu entendo este Pomposo como um nome que fica no ouvido, que se recorda com frequência. Acho que ajudas a dar ainda mais ênfase ao objectivo dos criadores da associação. A critica ao restaurante vale o que vale e acho que deve ser publicada.

Bruno Azevedo